O rapper e produtor norte-americano Jay-Z utilizou partes – samples, num termo mais técnico – do tema “Todo o mundo e ninguém” do grupo português Quarteto 1111. O álbum foi editado em 1970, num dos temas do seu novo álbum – 4:44 -, que foi divulgado esta sexta-feira.
“É uma honra perceber que estes anos todos depois há pessoas atentas à nossa obra e a ouvi-la”, afirmou, em declarações à Lusa, o músico e compositor Tozé Brito, um dos autores do tema no qual Jay-Z se inspirou.
O outro autor da canção é José Cid, cujo nome, tal como o de Tozé Brito, surge nos créditos de “Marcy Me”, o nono e penúltimo tema de 4:44.
Para Tozé Brito e José Cid “foi uma surpresa”. “A canção foi gravada em 1970, saiu num single e, para nosso espanto, foi apenas recuperada nos anos 1990 numa antologia do Quarteto 1111″, recordou.
Os dois artistas foram contactados pela editora de Jay-Z pedindo autorização para que o rapper compusesse um tema “usando samples da canção, inclusivamente vozes”, tendo respondido “com certeza que sim”.
“É uma honra que uma pessoa com o estatuto dele, a grandeza, a carreira que tem e o nome que tem, esteja a usar, 47 anos depois de a canção ter sido escrita, uma canção que nós escrevemos. Isto para nós é uma honra“, sublinhou Tozé Brito.
A autorização foi negociada, mas Tozé Brito escusa-se a adiantar montantes. “Os números não vou divulgar, são confidenciais. Uma parte dos direitos de autor da canção vai para o José Cid e para mim”, disse.
No ar permanece uma grande dúvida: “Ainda não consegui perceber como é que ele chegou à obra do Quarteto 1111, sendo que estamos a falar de uma canção de 1970, reeditada em CD nos anos 1990”.
Apesar disso, o importante “é que chegou”. “E isso honra-nos muito, porque quer dizer que a obra do Quarteto 1111 é considerada, é ouvida, às vezes por pessoas que nem nós suspeitamos que a podem ouvir”, afirmou.
“Todo o mundo e ninguém” foi escrita “sobre um poema de Gil Vicente”. Na altura, o Quarteto 1111 tinha “muitos discos proibidos pela censura”, então Tozé Brito e José Cid recorriam “a textos da literatura que não eram censuráveis”, mas continham críticas, ainda assim.
“Este tema é uma crítica social muito forte, e era por isso que íamos buscar estes textos”, recordou o compositor.
O novo disco de Jay-Z, “4:44”, sucessor de “Magna Carta Holy Grail”, de 2013, foi disponibilizado hoje em exclusivo na plataforma de streaming Tidal, criada pelo próprio.
// Lusa