Javali dos mares. Salmão pré-histórico gigante tinha dentes em forma de presas

Ray Troll

Oncorhynchus rastrosus, conceito artístico

A maior espécie de salmão alguma vez descoberta, Oncorhynchus rastrosus, pode ter usado os seus dentes distintivos, semelhantes a presas, para competir com rivais, defender-se de predadores e cavar ninhos. E afinal, o “salmão tigre-de-dentes-de-sabre” era um “salmão-javali”.

Um enorme salmão pré-histórico tinha dentes em forma de presas que sobressaíam de ambos os lados do focinho, revela um novo estudo.

Capaz de atingir 2,7 metros de comprimento, segundo algumas estimativas, o Oncorhynchus rastrosus, uma espécie do Pacífico, era o maior salmão de que se tem conhecimento.

Este “javali dos mares” tinha mais do dobro do tamanho do maior salmão do Pacífico vivo atualmente, o salmão Chinook (Oncorhynchus tshawytscha), que normalmente atinge cerca de 90 cm de comprimento.

Há muito que os cientistas estão intrigados com os dentes excecionais do O. rastrosus, uma caraterística física que se reflete na anatomia dos seus crânios fossilizados.

Inicialmente, os investigadores pensaram que os dentes se curvavam para baixo, como os de um tigre com dentes de sabre, o que levou a que o nome comum de “salmão com dentes de sabre” fosse atribuído à espécie.

No entanto, um novo estudo, publicado a semana passada na revista PLOS One mostra que os dentes se assemelham mais às presas de um javali, projectando-se para o lado e não para baixo.

“O O. rastrosus tinha estas características únicas que não existem em mais lado nenhum”, explicou Kerin Claeson, professora de anatomia no Philadelphia College of Osteopathic Medicine e primeira autora do novo estudo, em nota enviada ao Live Science.

Descrito pela primeira vez na década de 1970, o O. rastrosus nadava no que hoje são as águas do noroeste do Pacífico. Segundo um artigo sobre este peixe publicado em 2016 na PaleoBios, os fósseis datam de 12 a 5 milhões de anos.

O O. rastrosus é um parente próximo – mas não um antepassado – do salmão moderno do Pacífico, especialmente o sockeye, explica Claeson. Tal como o salmão Chinook moderno, o O. rastrosus teria nascido em rios e riachos de água doce, mas passou a maior parte da sua vida no mar, regressando apenas para desovar  — e provavelmente morrer.

Mas, ao contrário do salmão Chinook, cuja dieta consiste principalmente em outros peixes, estes peixes antigos alimentavam-se de plâncton, sugando as criaturas microscópicas para a boca através de brânquias semelhantes a peneiras.

Há cerca de 4,75 milhões de anos, o O. rastrosus extinguiu-se.

Os primeiros fósseis foram recolhidos na Califórnia e no Oregon, mas estavam desarticulados, o que significa que os dentes se tinham separado do resto do crânio.

Sem meios visuais para identificar a posição dos dentes, os investigadores, sabendo que os salmões modernos do Pacífico têm dentes virados para baixo, deduziram que o O. rastrosus também os tinha. “Era natural presumir que, quando se colocava este dente no sítio, era essa a disposição que iria ter”, disse Claeson.

Na década de 2010, no entanto, uma equipa de investigadores encontrou evidências que desafiavam essa suposição.

Durante uma expedição de 2014 à pedreira Gateway, no condado de Jefferson, Oregon, os membros da equipa recuperaram fósseis adicionais de O. rastrosus, incluindo os crânios de um macho e de uma fêmea que se acredita terem constituído um par reprodutor.

Ambos os crânios diferiam dos primeiros espécimes num aspeto fundamental: os ossos da mandíbula ainda estavam ligados e a orientação lateral dos dentes era visível.

Os exames de TAC revelaram características específicas no maxilar superior que confirmaram que os dentes se afastavam lateralmente da face — descoberta que sugere que a reconstrução original do O. rastrosus tinha sido incorrecta.

Com base nesta descoberta, os investigadores afirmam que o O. rastrosus deveria ser rebatizado como salmão com dentes de espiga.

Embora o objetivo exato dos dentes não seja claro, podem ter ajudado o O. rastrosus a defender-se de predadores, a competir com rivais e/ou a cavar ninhos no leito do rio, de acordo com o estudo.

Mas, apesar do seu grande tamanho, o Oncorhynchus rastrosus era provavelmente um alvo para os carnívoros do seu tempo — e, explica Kerin Claeson, um só indivíduo “teria rendido muita carne“.

ZAP //

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