Investigadores descobrem o que torna o cérebro humano diferente

Investigadores de Yale identificaram características específicas que distingue- o cérebro humano do de todos os outros animais — incluindo os nossos parentes primatas mais próximos.

Investigadores de Yale identificaram características específicas de espécies — nomeadamente humanas — numa análise dos tipos celulares no córtex pré-frontal de quatro espécies de primatas. As descobertas foram publicadas num novo estudo a 25 de agosto, na revista Science.

Para o estudo, os cientistas examinaram o córtex pré-frontal dorsolateral (dlPFC),  uma região cerebral única para os primatas e essencial para a cognição.

Através de uma técnica de sequenciação de RNA de célula única, os investigadores perfilaram níveis de expressão de genes em centenas de milhares de células recolhidas do dlPFC de humanos adultos, chimpanzés e macacos.

“Hoje, vemos o córtex pré-frontal dorsolateral como o componente central da identidade humana, mas ainda não sabemos o que torna isto único nos seres humanos e nos distingue de outras espécies de primatas”, explicou Nenad Sestan, autor principal do estudo e investigador de Yale.

Agora temos mais pistas“, acrescentou Sestan, que também já liderou uma experiência capaz de restaurar a função cerebral num porco, uma hora após a morte.

Os investigadores analisaram primeiro se existiam tipos de células exclusivamente presentes em seres humanos ou outras espécies de primatas não humanos.

Após agrupar células com perfis de expressão semelhantes, revelaram 109 tipos de células de primatas partilhados. Descobriram também cinco que não eram comuns a todas as espécies. Estes incluíam um tipo de microglia, ou célula imunitária específica do cérebro, que estava presente apenas em humanos, bem como um segundo tipo, partilhado apenas por humanos e chimpanzés.

A microglia específica do ser humano que os investigadores encontraram existe ao longo do desenvolvimento e da idade adulta, sugerindo que as células desempenham um papel na manutenção do cérebro, em vez de combaterem doenças.

“Nós, humanos, vivemos num ambiente muito diferente com um estilo de vida único em comparação com outras espécies de primatas e as células glia, incluindo a microglia, são muito sensíveis a estas diferenças“, explicou Sestan. “O tipo de microglia encontrada no cérebro humano pode representar uma resposta imunitária ao ambiente”, acrescentou ainda o investigador.

Outra surpresa do ser humano foi revelada numa análise da expressão genética na microglia — a presença do gene FOXP2.

Esta descoberta suscitou grande interesse entre os investigadores porque as variantes de FOXP2 foram ligadas à dispraxia verbal, uma condição que dificulta a linguagem ou fala das pessoas.

Outras pesquisas mostraram também que o FOXP2 está associado a outras doenças neuropsiquiátricas, tais como o autismo, a esquizofrenia e a epilepsia.

A equipa de investigação descobriu que este gene é específico de primatas num subconjunto de neurónios excitatórios e nos humanos em microglia.

“O FOXP2 tem intrigado os cientistas durante décadas, mas ainda não tínhamos ideia do que o tornava único no ser humano, versus outras espécies de primatas”, sublinhou Shaojie Ma, co-autor do estudo, citado pela Sci Tech Daily.

“Estamos extremamente entusiasmados com as descobertas do FOXP2, porque mostram novas direções no estudo da linguagem e das doenças“, concluiu Ma.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.