(dr) Canterbury Cathedral
Desde que Morton Smith, professor de história antiga da Universidade de Columbia, afirmara ter descoberto uma carta no mosteiro de Mar Saba em 1958 de Clemente de Alexandria com passagens controversas do chamado Evangelho Secreto de Marcos, a autenticidade deste texto tem sido questionada.
Vários eruditos conceituados do cristianismo primitivo, como Larry Hurtado, Birger Pearseon, Bart Ehrman ou Craig Evans, consideram uma falsificação moderna, mas a investigação realizada por Timo Paananen na sua tese de doutorado conclui que a carta do filósofo cristão é autêntica, como indica a Universidade de Helsínquia em comunicado.
“A carta é um texto genuíno da Antiguidade, embora seja difícil determinar se foi escrita pelo próprio Clemente ou talvez por um seu aluno, Orígenes de Alexandria”, diz Paananen, que analisou a escrita à mão da carta destinada ao desconhecido Theodore e descobriu que o processamento digital de imagens causou a corrupção involuntária dos detalhes na escrita.
Além disso, um estudo comparativo mostra que a caligrafia da carta de Clemente não contém o que é conhecido como “o tremor do falsário” ou outros indicadores comuns de falsificação, observa a universidade finlandesa.
“A ignorância dos padrões de análise de caligrafia usados em estudos forenses também enganou outros investigadores que consideram que a escrita da carta de Clemente foi falsificada por Smith“, diz Paananen.
O desaparecimento do manuscrito na biblioteca do Patriarcado Ortodoxo Grego de Jerusalém e as teorias sensacionalistas de Smith sobre o Jesus histórico, que continha ambos os ritos mágicos como homoerotismo, alimentou ainda mais as suspeitas de que se tratava de uma falsificação.
“Na interpretação de Smith, Jesus era um mago que explorava as alucinações induzidas por uma sugestão hipnótica, quando levava os seus discípulos para a subida ao céu e lhes apresentava o mistério do Reino de Deus. Para coroar tudo isso, Smith sugeriu que união espiritual descrito no Evangelho Secreto de Marcos pode ter sido complementado por uma “união física”, diz este especialista.
De acordo com Paananen, não existe um método geralmente aceite para detetar falsificações. “Anteriormente, os cientistas podem ter sucumbido à tentação de desenvolver teorias malucas de falsificação baseadas em pistas e códigos imaginários. Além disso, os historiadores tiveram que avaliar as falsificações caso a caso e as falsificações habilidosas levaram a longos e acalorados debates “, disse.
O seu estudo propõe desenvolver uma estrutura científica para detetar falsificações.
