Arqueólogos descobrem finalmente quem inventou a roda

Imago/ Alamy

A mais antiga roda de madeira conhecida, datada de há 5.200 anos, descoberta juntamente com um eixo nos pântanos de Ljubljana, na Eslovénia, em 2002.

Caminhos estreitos e fechados das minas de cobre dos Cárpatos levaram os mineiros, que precisavam de transportar cargas pesadas a partir das profundezas das minas, a criar o design de roda e eixo, sugere novo estudo.

A roda, uma das invenções mais importantes da humanidade, foi desenvolvida por mineiros de cobre nos Cárpatos — a segunda cadeia mais longa de montanhas da Europa — há cerca de 6000 anos, sugere um estudo publicado esta quarta-feira na Royal Society Open Science.

A investigação propõe que os mineiros podem ter impulsionado a inovação por necessidade de transportar cargas pesadas de minério de cobre das profundezas das minas.

Uma de três teorias

A roda revolucionou os transportes e a cerâmica, mas a sua origem exata nunca foi clara. As provas arqueológicas de rodas e veículos com rodas são abundantes na Europa, Ásia e Norte de África da Idade do Cobre, mas devido à rápida adoção da roda, sempre foi difícil identificar o seu local exato de nascimento.

Surgiram três teorias principais: uma diz que a roda teve origem na Mesopotâmia por volta de 4000 a.C.; outra situa a sua invenção ao longo da costa do Ponto da Turquia por volta de 3800 a.C.; a terceira, — e apoiada por este novo estudo — postula que foi desenvolvida nos Montes Cárpatos entre 4000 e 3500 a.C.

Esta terceira teoria não é nova: foi introduzida pelo historiador Richard Bulliet, que sugere que, por volta de 4000 a.C., os mineiros de cobre se depararam com depósitos de superfície cada vez mais escassos, o que os obrigou a ir mais fundo nas minas.

A necessidade de transportar minério pesado terá estimulado inovações na tecnologia de transporte, levando ao desenvolvimento de carrinhos de mineração retangulares, de forma trapezoidal, semelhantes aos modernos carros de mina.

Caminhos estreitos motivaram novo design

Bulliet e a sua equipa — que conta com o engenheiro aeroespacial Kai James e com o engenheiro Lee Alacoque —recorreram à mecânica estrutural para explorar a evolução do sistema roda-eixo e criaram um modelo para explorar a forma como estas inovações iniciais podem ter evoluído para um sistema de rodas e eixos.

Os investigadores propuseram três inovações-chave necessárias para o desenvolvimento da roda.

A primeira foram os rolos com ranhuras, que permitiram que os objetos assentassem com segurança nos rolos e se movessem mais facilmente, facilitando carrinhos mais largos. A segunda foi um conjunto de rodas, fixas a um eixo, que ajudou os carrinhos a navegar em terrenos acidentados. O resultado final, o movimento independente das rodas, surgiu cerca de 500 anos mais tarde.

A equipa utilizou a mecânica computacional e a ciência do design para demonstrar como os rolos simples podiam evoluir para sistemas de rodas mais sofisticados, otimizando a eficiência energética no processo.

O modelo sugere que os caminhos estreitos e fechados das minas dos Cárpatos podem ter influenciado o design e encorajado a transição de sistemas básicos de rolos para um design mais avançado de roda e eixo.

“O ambiente em que os criadores da roda original estavam a operar continha certas caraterísticas únicas que encorajavam a mudança para o transporte baseado em rolos”, disse Kai James ao Live Science: “Essencialmente, essas caraterísticas ambientais — por exemplo, um caminho estreito e fechado — empurraram os criadores da roda para esse design específico”.

Os investigadores acreditam ainda que a sua abordagem de conceção computacional pode ser utilizada para responder a outras questões arqueológicas, como a construção das misteriosas pirâmides do Egito, por exemplo.

“O desenho mecânico computacional pode ser fundamental para responder a algumas dessas questões”, conclui o co-autor.

Vale a pena reforçar, no entanto, que os autores do estudo reconhecem que as origens da roda podem não se limitar à Europa de Leste. “Penso que ainda é possível que várias civilizações tenham descoberto a roda de forma independente e por conta própria”, confessa James.

Tomás Guimarães, ZAP //

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