Inteligência Artificial edita imagens por “controlo mental” humano

Um novo software baseado em Inteligência Artificial é capaz de realizar edição de imagens no computador, através de sinais elétricos do cérebro humano.

“Podemos fazer um computador editar imagens inteiramente baseado em pensamentos gerados por humanos. O computador não recebe nenhuma informação prévia sobre como é suposto editar. Nunca ninguém fez isto antes”, revela Tuukka Ruotsalo, professor de ciências informáticas da Universidade de Copenhaga.

No novo estudo, publicado no Computer Vision and Pattern Recognition 2022, 30 participantes utilizaram capacetes com elétrodos que mapearam sinais elétricos do cérebro (eletroencefalografia ou EEG).

A todos os participantes foram dadas as mesmas 200 imagens faciais diferentes para serem examinadas. Também lhes foi dada uma série de tarefas, tais como procurar rostos femininos, procurar pessoas mais velhas, procurar cabelo loiro, entre outras.

Os participantes não realizaram quaisquer ações, bastava olhar brevemente para as imagens — 0,5 segundos para cada imagem.

Com base na sua atividade cerebral, a máquina mapeia primeiro a preferência dada e depois edita as imagens em conformidade, segundo explica a nota de imprensa da Universidade de Copenhaga.

Assim, se a tarefa fosse procurar pessoas mais velhas, o computador modificaria os retratos das pessoas mais novas, fazendo-as parecer mais velhas. E se a tarefa fosse procurar uma determinada cor de cabelo, o computador trocava a cor.

“O computador não tinha conhecimento de reconhecimento facial e não tinha qualquer ideia sobre género, cor de cabelo, ou quaisquer outras características relevantes. Mesmo assim, apenas editou a característica em questão, deixando outras características faciais inalteradas”, explicou Keith Davis, estudante de doutoramento na Universidade de Helsínquia.

Embora já exista software com a capacidade de alterar as características faciais de uma fotografia, este distingue-se por outro motivo.

“O software existente foi previamente treinado. Assim, se quiser um aplicativo que possa fazer as pessoas parecerem mais velhas, alimenta-o com milhares de retratos e diz ao computador quais são os jovens, e quais são os mais velhos”, realça Davis.

“Aqui, a atividade cerebral dos sujeitos foi o único input. Este é um paradigma inteiramente novo na inteligência artificial — utilizando diretamente o cérebro humano como fonte de input”, sublinha.

“Os médicos já utilizam a IA na interpretação de imagens de scan. No entanto, os erros acontecem. Afinal, os médicos só são assistidos pelas imagens, mas são eles próprios que tomam as decisões. Talvez certas características das imagens sejam mais mal interpretadas do que outras. Estes padrões podem ser descobertos através da utilização da nossa investigação”, reconhece Ruotsalo.

Outra aplicação possível seria a assistência a certos grupos de pessoas deficientes, por exemplo, permitindo a uma pessoa paralisada utilizar o seu computador.

“Isso seria fantástico”, admite Ruotsalo. “Contudo, esse não é o foco da nossa investigação. Temos um âmbito alargado, para melhorar a aprendizagem de máquinas em geral. A gama de aplicações será ampla. Por exemplo, daqui a 10 ou 20 anos poderemos não precisar de utilizar um rato ou digitar comandos para operar o nosso computador. Talvez possamos simplesmente usar o controlo da mente”.

No entanto, Ruotsalo relembra que “a recolha de sinais individuais do cérebro envolve, de facto, questões éticas”.

“Quem adquire este conhecimento pode obter uma perceção profunda das preferências de uma pessoa. Já vemos algumas tendências. As pessoas compram relógios ‘inteligentes’ e dispositivos semelhantes, capazes de registar o ritmo cardíaco, mas será que temos a certeza de que não são gerados dados que fornecem informação que não gostaríamos de partilhar às corporações privadas?”

“Vejo isto como um aspeto importante do trabalho académico. A nossa investigação mostra o que é possível, mas não devemos fazer coisas só porque elas podem ser feitas. Esta é uma área que, a meu ver, precisa de ser regulada por diretrizes e políticas públicas. Se estas não forem adaptadas, as empresas privadas irão simplesmente em frente”, conclui o docente.

Alice Carqueja, ZAP //

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