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Implante cerebral permite que paciente totalmente cega consiga ver formas e letras

Os cientistas da Universidade Miguel Hernández de Elche (UMH), em Espanha, fizeram com que uma mulher completamente cega conseguisse ver formas simples e letras, através da colocação de um implante no seu córtex visual.

Os investigadores estimularam grupos específicos de neurónios, o que resultou na criação de imagens no campo de visão da paciente espanhola.

Num novo estudo, os especialistas descrevem de que forma inseriram o implante no cérebro da voluntária de 57 anos que estava totalmente cega há 16 anos.

Os 96 eletrodos do dispositivo foram colocados estrategicamente para permitir a ativação do “mapa retinotópico” da paciente, que consiste em neurónios que são dispostos para corresponder a pontos no campo visual, escreve o IFL Science.

A estimulação destes neurónios produziu formas básicas conhecidas como fosfenos, que são constituídas por pontos brancos ou linhas de luz. Estas formas são frequentemente vistas depois de esfregarmos os olhos ou olharmos para uma luz brilhante.

Segundo os autores do estudo, a paciente passou por dois meses de treino diário até conseguir distinguir os fosfenos espontâneos dos que são gerados pelo implante.

Com o passar do tempo, a mulher tornou-se mais eficaz na identificação das formas produzidas pelo dispositivo e foi capaz de distinguir formas distintas. Por exemplo, ao estimular neurónios específicos no seu mapa retinotópico, os investigadores foram capazes de criar fosfenos que se pareciam com letras.

Desta forma, a paciente foi capaz de detetar as letras I, L, C, V e O com 70% de precisão. No entanto, os autores do estudo afirmam que “embora várias combinações de eletrodos evocassem perceções que se assemelhavam a letras, não foi possível a perceção de todas as letras do alfabeto”.

Durante a experiência, os investigadores criaram ainda um jogo no qual a paciente tinha que determinar se uma animação mostrava Maggie Simpson a mover-se para a esquerda ou para a direita, enquanto o eletrodo estimulava os neurónios apropriados para revelar a direção do movimento.

Já no final da experiência, que durou seis meses, os investigadores equiparam a paciente com uma câmara que convertia as entradas visuais em sinais que eram enviados aos eletrodos.

Com o uso deste dispositivo, a mulher conseguiu distinguir uma série de barras pretas e brancas impressas e identificou um quadrado branco que aparecia em locais aleatórios de uma tela preta.

Eduardo Fernández, autor principal do estudo, explicou em comunicado que “estes resultados são muito encorajadores, pois demonstram segurança e eficácia, e podem ajudar a realizar um sonho antigo de muitos cientistas, que é a transferência de informações do mundo externo para o visual córtex de indivíduos cegos”.

Apesar dos avanços, o especialista sublinha que ainda há muito trabalho a ser feito antes da tecnologia poder ser usada para ajudar a restaurar a visão de pessoas cegas.

“Devemos estar cientes de que ainda há uma série de questões importantes sem resposta, e que muitos problemas precisam de ser resolvidos antes que uma prótese visual possa ser considerada uma terapia clínica viável”, rematou.

O estudo foi publicado no The Journal of Clinical Investigation a 19 de outubro.

ZAP //

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