Implante capaz de bloquear dor através do adormecimento dos nervos

Universidade de Northwestern

Implante desenvolvido com o objetivo de adormecer a dor humana

Dispositivo é feito de materiais biodegradáveis e, ao contrário dos opiáceos, não causa dependência 

Para um indivíduo comum, a forma de aliviar a dor após uma queda ou um mau-jeito é colocar gelo sobre a lesão feita. No entanto, a ciência tem uma forma menos rudimentar de conseguir o mesmo efeito, apesar de não estar ao alcance de qualquer um e para todas as eventualidades: um implante que arrefece as fibras nervosas no interior do corpo humano.

O dispositivo pode arrefecer os nervos até 10°C, reduzindo os sinais de dor enviados ao cérebro, de acordo com um estudo que testou um protótipo em ratos de laboratório. Feito de materiais biodegradáveis, o implante é concebido para ser implantado após a cirurgia e depois ser absorvido pelo corpo à medida que a dor da operação diminui.

Esta solução parece responder à grande necessidade de encontrar outras e melhores formas de tratar a dor porque os opiáceos, a principal classe de medicamentos utilizados atualmente, podem ser viciantes. As soluções como gelo ou tiras de arrefecimento podem ajudar temporariamente, mas também podem causar sensações de desconforto no corpo e até ficarem danificadas se utilizados durante demasiado tempo.

John Rogers da Northwestern University, em Illinois, quis, por isso, resolver o problema da dor, enveredando por um caminho muito mais direto. A equipa por si liderada desenvolveu uma faixa fina e flexível que contém pequenos canais para que os químicos fluam através deles. Uma extremidade pode ser enrolada à volta de uma fibra nervosa como uma manga. A outra extremidade emerge da pele e está ligada a uma pequena bomba.

Durante o processo, gás nitrogénio e um líquido inofensivo chamado perfluoropentano (PFP) são bombeados através de canais separados na tira. Os químicos misturam-se na extremidade mais distante da tira, o que provoca a evaporação do PFP, proporcionando um efeito de arrefecimento.

O gás PFP e o nitrogénio retornam através de um terceiro canal para a bomba, onde são separados e o PFP muda de volta para um líquido. O dispositivo também contém um sensor de temperatura, pelo que o efeito pode ser monitorizado e ajustado.

Para testar o dispositivo, foi implantado em torno do nervo ciático nas pernas de três ratos, com as suas patas  ficaram feridas, pelo que se tornaram mais sensíveis. Três semanas depois, quando cada pata foi pressionada utilizando um dispositivo de medição sensível, foi necessária sete vezes mais força para que os animais retraíssem a sua perna quando o arrefecimento foi ligado. “Foi uma boa indicação de que tínhamos entorpecido a pata”, disse Rogers à New Scientist.

Após seis meses, o dispositivo tinha sido absorvido pelo corpo e não foram observados danos nos nervos. A equipa precisa agora de continuar a testar o implante em animais para compreender quantos nervos podem ser arrefecidos – e por quanto tempo – sem causar danos, diz Rogers.

Ainda assim, vale a pena ressalvar que muitas abordagens anteriores para aliviar a dor que funcionavam em ratos não tiveram sucesso em pessoas, mas está bem estabelecido que o arrefecimento dos nervos bloqueia a sua função, aponta Francis McGlone da Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido. “Isto é biofísica básica“. O princípio subjacente é seguro”.

Este tipo de implante pode ser mais útil para pessoas com dores fortes e de longa duração, uma vez que é mais difícil de tratar com opiáceos sem levar à dependência, diz McGlone. Rogers diz que uma forma permanente do dispositivo poderia também ser feita, se necessário, utilizando materiais que não se biodegradam. “Mas o uso mais natural é em termos de uma cirurgia que precisa de acontecer de qualquer forma”, diz ele.

ZAP //

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