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Imóveis ou relógios de luxo? Os investidores chineses sabem bem qual preferem

 

(cv) Rolex / YouTube

Estagnação do mercado imobiliário chinês — motivada pelas políticas de Xi Jinping ou pelo colapso do Evergrade e outros investidores — está a levar os mais ricos do país a procurar novas formas de rendimento, ao mesmo tempo que ostentam o seu poderio económico.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Outrora vistos como investidores entusiastas, os agentes imobiliários chineses estão agora a mudar o seu foco para outro item de luxo, os relógios, que entendem ser uma maior fonte de valor face ao lento crescimento económico no país, mas também a cada vez mais intensa campanha de Xi Jinping contra a especulação imobiliária.

De acordo com os depoimentos recolhidos pelo Financial Times, muitos revendedores de relógios de gama alta revelaram que o seu negócio ganhou novas dimensões nos recentes meses, à medida que os indivíduos mais ricos param de comprar segundas, terceiras ou mais habitações e, em alternativa, se viraram para peças de luxo e intemporais de relojoaria, de marcas como a Rolex e a Patek Philippe.

A nova tendência de compra, explicam os especialistas, contribuiu para um crescimento na ordem dos 40% nas importações de relógios suíços nos primeiros dez meses do ano, mesmo com a generalidade da economia chinesa estagnada.

Camille Gaujacq, analista da Daxue Consulting, um grupo de monitorização do mercado sediado em Shanghai, confirmou a crise da indústria imobiliária, vista anteriormente como um investimento óbvio para a classe chinesa mais rica, mas que agora procura alternativas. Neste contexto, sublinha Gaujacq, os relógios de luxo podem ser a resposta.

Tal como lembra a mesma fonte, este tipo de propriedades tem sido uma aposta segura na maioria das cidades chinesas desde que o mercado de urbano de casas no país foi liberalizado no final da década de 1990. No entanto, a intenção de Xi Jinping de implementar a política de “prosperidade comum”, assim como o colapso do Evergrade e de outros investidores imobiliários, originaram uma rara crise nos preços das propriedades ao longo dos meses recentes.

Algo que não é expectável que mude tão cedo, de acordo com os analistas e compradores. Recentemente, o partido comunista reafirmou a sua tese de que “as casas são para viver, não para especular”, isto ao mesmo tempo que decreta medidas de apoio à economia.

No sentido inverso à crise no setor do imobiliário, os relógios de luxo são cada vez mais populares entre a população rica da China. Em outubro, um inquérito feito pela CSG Intage (uma empresa de consultoria de Hong Kong) a 1500 chineses adultos com rendimentos anuais superiores a 78 mil dólares concluiu que 88% dos participantes pretendia manter ou aumentar os gastos em relógios de luxo nos 12 meses seguintes.

“O fim da cadeia do mercado de relógios está muito forte neste momento”, explicou Simon Tye, autor do estudo. “Se entrarem numa loja da Rolex atualmente, provavelmente eles não terão relógios suficientes para vender aos clientes”, descreveu.

Ainda segundo o Financial Times, para muitos compradores ricos, os relógios de luxo não são apenas um símbolo de estatuto ou do seu poder financeiro. São, também, uma cobertura contra a inflação.

Sam Yu, dono de uma empresa fabricante de aquecedores elétricos e de dois apartamentos, considerou que a compra de um relógio da marca Patek Philippe, por 97 mil euros, foi um investimento “inteligente”.

“Depois de dois anos posso vender o relógio e conseguir algum lucro”, explicou o também investidor que comprou a sua última casa há cinco anos. “Não poderei fazer isto com o meu apartamento. Devido à incerteza das políticas, posso demorar meses a encontrar um comprador, a não ser que ofereça um grande desconto”.

Segundo a Watcheco, a principal plataforma online chinesa de venda de relógios de luxo em segunda mão, muitas marcas têm visto o seu valor aumentar ao longo dos últimos anos, sobretudo no mercado japonês. Com a Rolex, por exemplo, pode assistir-se a um crescimento de cinco vezes face ao valor original das peças.

“Há muita procura e falta de fornecimento para certos modelos de luxo”, explicou David Wang, revendedor de relógios de luxo em Shangai. Contrariamente ao que acontece com os imóveis, a tendência é que os investimentos não venham a perder valor. “É muito pouco provável que os preços venham a ser amenizados num futuro próximo”, conclui Wang.

ZAP //

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