Há uma ilha que ‘muda de país’ duas vezes por ano. E está mais próxima do que imagina

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Zarateman / Wikimedia

Ilha dos Faisões

A Ilha dos Faisões, uma faixa de terra com 200 metros de comprimento e que se situa entre Espanha e França, é governada pelas duas nações vizinhas, de forma alternada, a cada seis meses.

Localizada perto da foz do Rio Bidasoa, no Golfo de Biscaia, entre as cidades fronteiriças de Hendaye, na França, e Irun, em Espanha, a sua governação resulta de uma rivalidade histórica entre os dois países, segundo a BBC. De acordo com Mike MacEacheran, jornalista de viagem, poucas pessoas conhecem a ilha.

O repórter ficou a conhecê-la durante uma viagem pela região, liderada pela arqueóloga Pía Alkain Sorondo. A Ilha dos Faisões, com formato elíptico e coberta de árvores, fica a 10 metros do lado espanhol do rio e a 20 do lado francês.

No centro, um enorme monumento – parecido com uma lápide – celebra a reunião onde foi negociado o Tratado dos Pirenéus, que selou a paz entre os países, em 1659. “Aprender a história por trás deste local é como uma descoberta”, contou Sorondo, citada por MacEacheran. “É quase uma ilha-fantasma”, afirmou.

A Ilha dos Faisões foi mudando de nome ao longo dos anos: o atual – Isla de los Faisanes (espanhol), Faisai Uhartea (basco) ou Île des Faisans (francês) – deriva de um erro. “Não existem faisões na Ilha dos Faisões”, reclamou o romancista francês Victor Hugo ao visitar o local, em 1843. Só há patos-reais e aves migratórias.

No tempo dos romanos, a ilha era conhecida como “Pausoa” – palavra basca que significa “passagem” ou “passo”. Os franceses traduziram para “Paysans” (camponeses), que depois virou “Faisans” (faisões). Com o passar do tempo, o nome Ilha dos Faisões permaneceu.

A ilha ganhou importância em 1648, após um cessar-fogo no final da Guerra dos Trinta Anos, tendo sido escolhida como um espaço neutro para demarcar as novas fronteiras entre Espanha e França. Após 11 anos, foi celebrado o acordo de paz, denominado Tratado dos Pirenéus.

Um casamento real foi marcado para assinalar a ocasião: em 1660, o rei francês Luís XIV se casou com Maria Teresa, filha do rei espanhol Filipe IV. Pontes foram construídas e a realeza chegou em carruagens e barcos do Estado. Diego Velázquez, autor de “As Meninas”, organizou boa parte das festividades.

Os dois países decidiram então que a governação do território seria conjunta. Espanha ficaria responsável entre 01 de fevereiro e 31 de julho e França assumiria o comando nos seis restantes meses do ano. Surgia, assim, o menor condomínio do mundo, apontou o artigo da BBC.

Por definição, os condomínios são locais determinados pela existência de mais de um Estado soberano. O termo é derivado do latim condominium: “com” significa “conjunto”, e “dominium” quer dizer “direito de propriedade”. Tratam-se, normalmente, de anexos geopolíticos.

Atualmente, há outros condomínios: o Lago de Constança, governado pela Áustria, Alemanha e Suíça; o distrito de Brčko e o território em disputa da República Sérvia, ambos na Bósnia-Herzegovina; a Área de Regime Comum, partilhada pela Colômbia e pela Jamaica; e a região de Abyei, reivindicada pelo Sudão e pelo Sudão do Sul.

O Rio Mosel e os seus afluentes Sauer e Our formam um condomínio fluvial partilhado entre a Alemanha e Luxemburgo. Já o Golfo de Fonseca é um condomínio das Honduras, de El Salvador e do Nicarágua. Por fim, a Antártida é governada pelos 29 signatários do Tratado da Antártida.

Entre as tarefas dos governantes na Ilha dos Faisões estão a administração do jardim, a manutenção do atracadouro dos barcos, os direitos de pesca e a monitorização da qualidade da água. Os visitantes são autorizados em raras ocasiões, como é o caso dos dias de transferência de poder, que deixam a ilha repleta de atividades.

ZAP //

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2 Comments

  1. Faz lembrar Olivença que cada país (Portugal e Espanha) diz ser sua. Mas esta é sempre de governação espanhola e não alternada.

    • Embora seja – Olivença – legalmente portuguesa. Só que este país – Portugal -, que vem sendo há muito tempo governado por antipatriotas, prefere ver o seu torrão a cair aos bocados do que, de uma vez por todas, acertar as contas…

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