Stephen “nunca tinha encontrado nada assim antes”. Deitado no areal da Baía de Liverpool estava um “alien gigante” que era, na verdade, um exemplar do segundo maior tubarão do mundo. Mas a confusão é historicamente comum.
“Estava a correr na praia e pensei ‘o que é aquilo?’ porque parecia bastante grande”. O testemunho é de Stephen Davies, de 72 anos, que tropeçou, no dia 5 de janeiro, numa carcaça que os locais apelidaram de “alien gigante” quando deu à costa.
A “besta” tinha cerca de seis metros de comprimento e descansava no areal da foz do Rio Mersey na Baía de Liverpool, no Reino Unido. Só quando Davies consultou um pescador local para saber mais sobre a carcaça é que percebeu que estava perante um exemplar do segundo maior tubarão do mundo — um tubarão-frade (Cetorhinus maximus), raramente visto na área.
“Estava a falar com um pescador que disse que era um tubarão-frade, que não me parece ser muito comum por aqui, mas pode ter sido trazido pela maré. Nunca tinha encontrado nada assim antes”, contou ao Liverpool Echo.
https://youtu.be/7RsgzS4ep-I
Depois de observar a sua cabeça decomposta e a estrutura da sua cauda, que diferia da de uma baleia, Chris Cureton, do British Divers Marine Life Rescue (BDMLR) North-West, confirmou a identidade do tubarão.
“A cauda do animal está cheia de ossos… se fosse uma baleia seria carne”, explica Cureton.
“O que o denunciou claramente foi a sua segunda barbatana dorsal, a cabeça está bastante decomposta mas não há sinal de uma mandíbula dentada reconhecível de tubarão”, disse.
No entanto, o exemplar encontrado por Davies é considerado muito jovem, pois tinha apenas metade do comprimento máximo para a sua espécie.
Tubarão ou monstro marinho?
Destronados apenas pelos tubarões-baleia, os tubarões-frade estão entre os maiores peixes da Terra, tendo sido ao longo da história, talvez por essa mesma razão, confundidos muitas vezes com monstros marinhos mitológicos por antigos marinheiros.
Gigante, mas gentil, alimenta-se de pequeno zooplâncton perto da costa e anda sempre de boca aberta. Apesar de se mover lentamente, consegue saltar fora de água a cerca de 5 metros por segundo, um comportamento que não é necessário tendo em conta os seus hábitos alimentares, mas que está possivelmente relacionado com a remoção de parasitas, a dissuasão de predadores ou a atração de parceiros.
Estes tubarões de sangue quente, que atingem os 10 metros de comprimento, são tipicamente avistados nos meses de verão ao redor do sudoeste da Inglaterra, País de Gales, Ilha de Man e oeste da Escócia. No inverno, percorrem longas distâncias.
Este verão, um exemplar foi avistado e fotografado em Portugal, mais precisamente na costa de Viana do Castelo, perto do parque eólico flutuante ‘off-shore’.
Apesar de serem avistados com alguma frequência, continuam “inundados” de enigma. Muitos aspetos do seu estilo de vida e padrões de migração são, até hoje, desconhecidos.
A espécie, ameaçada pela sobrepesca e emaranhamento acidental em equipamentos de pesca, está listada como Ameaçada na Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).
A interpretação errónea dos seus restos mortais como criaturas desconhecidas não é nova. Tem sido um fenómeno histórico, com características decompostas a levar muitas vezes a especulações e mistério. Casos como o “monstro marinho” encontrado perto de Christchurch em 1977 e a “Besta de Stronsay” de 1808, na Escócia, são alguns exemplos de tais identificações erradas, recorda o Science Alert.
Apesar da verdade inegável por trás destas descobertas, o encanto de uma descoberta misteriosa muitas vezes ofusca a realidade.