Será que os humanos conseguiriam viver em Arrakis, o planeta de Dune? Os cientistas tentaram descobrir

3

Warner Bros. Pictures

Cientistas criaram um modelo climático tendo por base as informações sobre Arrakis que são relatadas nos livros e concluíram que o resultado é um planeta inóspito e com um calor sufocante — mas habitável.

Depois de ter tido a estreia adiada várias vezes, Dune chegou finalmente aos cinemas, e uma das questões que os fãs mais geek da nova película futurista de Denis Villeneuve é se seria mesmo possível os humanos viverem nos áridos e duros desertos de Arrakis, o planeta que é casa às aventuras relatas nos livros de ficção científica de Frank Herbert. Felizmente, há cientistas que também já se debruçaram sobre a pergunta.

Num artigo no The Conversation, um grupo de especialistas em modelagem climática simulou como seria a vida em Arrakis. A conclusão deixou os cientistas “satisfeitos”, por descobrirem que o autor tinha visionado um ambiente que, entre terrenos baldios de areia e rochas e um Sol abrasador, poderia suportar vida humana. “Podemos precisar de ocasionalmente suspender a descrença, mas grande parte de Arrakis seria habitável, apesar de inóspita”, escrevem.

A construção da simulação começou tendo por base modelos usados na Terra para as previsões meteorológicas e climáticas, onde tiveram de ser decididas as leis da física — que os cientistas assumiram que seriam semelhantes às da Terra — e depois inseridos dados sobre diversos aspectos, como a forma das montanhas, a força do Sol de Arrakis ou a composição da sua atmosfera. O modelo pode depois simular o clima e dar uma ideia de como seria o tempo.

Depois de inserirem essas informações básicas, os cientistas basearam-se nas informações detalhadas dadas nos livros e na enciclopédia dedicada a este mundo fictício para darem mais dicas ao modelo sobre como é o clima de Arrakis, tais como a topografia do planeta e a forma da sua órbita — que assumiram ser circular, tal como a da Terra. “A forma de uma órbita pode realmente impactar o clima: vejam os Invernos longos e irregulares em Game of Thrones”, lembram os cientistas.

“Finalmente, dissemos ao modelo aquilo de que a atmosfera era feita. No geral, era bastante semelhante à da Terra hoje em dia, apesar de ter menos dióxido de carbono (250 partes por milhão em contraste com as nossas 417 partes por milhão). A maior diferença é na concentração de ozono. Na Terra, há muito pouco ozono na atmosfera inferior, apenas à volta de 0.000001%. Em Arrakis, é 0,5%. O ozono é importante porque é cerca de 65 vezes mais eficaz a aquecer a atmosfera do que o CO2 num período de 20 anos”, explicam.

Apesar de ser um planeta com características pouco favoráveis à vida, os livros relatam que à medida que nos aproximamos das regiões polares perto das cidades de Arrakeen e Carthag, o clima já é mais habitável. No entanto, esta explicação contraria o modelo criado pelos cientistas — neste, as temperaturas nos meses mais quentes nos trópicos andam perto dos 45ºC, enquanto que nos meses mais frios, não descem abaixo dos 15ºC, tendo um clima semelhante ao da Terra.

“As temperaturas mais extremas até ocorreriam nas latitudes médias e nas regiões polares. Aqui, o Verão pode ser tão quente como 70ºC na areia (como sugerido no livro). Os Invernos são igualmente extremos, com temperaturas de -40ºC nas latitudes médias e de -75ºC nos pólos”, detalham os especialistas.

Esta situação é também contra-intuitiva visto que as regiões equatoriais estão mais expostas ao Sol. No entanto, no modelo, as regiões polares de Arrakis têm uma humidade atmosférica bastante mais alta, o que funciona como uma nuvem de vapor que retém o calor e age como um gás com efeito de estufa.

Relativamente à precipitação, o livro afirma que não chove em Arrakis, mas os cientistas acreditam que ocasionalmente haveria pequenas chuvadas,  mas apenas nas latitudes mais altas no Verão e no Outono. As nuvens nos trópicos e nos polos já variam em função da estação do ano.

O livro menciona também a existência de calotas polares pelo menos no hemisfério Norte e já há muito tempo. Esta é a principal diferença entre o clima imaginado por Herbert e o modelo científico, que sugere que as temperaturas no Verão derreteriam quaisquer glaciares e que não haveria neve no Inverno.

A sobrevivência humana seria possível?

Para responder a esta pergunta, primeiro é preciso assumir que as personagens dos livros são humanos exactamente iguais a nós e com a mesma tolerância ao calor. Caso esse seja o caso, os trópicos seriam a área mais adequada para os humanos viverem, contrariamente ao que é dito nos livros e no filme. Devido à baixa humidade nos trópicos, as condições de habitabilidade que dependem da temperatura e da humidade seriam suficientes para o ser humano, apesar do calor. Já as latitudes médias, onde vivem a maior parte dos habitantes de Arrakis, seriam as mais perigosas em termos da temperatura, com médias entre 50ºC e 60ºC.

Toda a vida humanoide que saia das zonas habitáveis do planeta tem também de usar fatos escuros que mantém o utilizador protegido do calor e criam água potável com a recolha da humidade corporal gerada com a transpiração, a micção e a respiração. Este detalhe é relevante visto não existir água em Arrakis.

“É importante lembrar que Herbert escreveu o primeiro livro da série Dune lá atrás em 1965. Isto foi dois anos antes do recente vencedor do Nobel, Syukuro Manabe, publicar o seu primeiro modelo climático seminal, e Herbert não teve a vantagem dos supercomputadores modernos, ou de qualquer computador. Tendo isso em conta, o mundo que criou parece notavelmente consistente seis décadas depois“, concluem os cientistas.

Adriana Peixoto, ZAP //

3 Comments

  1. “Este detalhe é relevante visto não existir água em Arrakis”

    Do que eu me lembro havia água no subsolo… ou estou a confundir filmes?!?!

    • Não vi a nova versão, mas se bem me lembro, na original havia tão pouca água em Arrakis que os Fremen faziam o seu xixizinho para dentro dos seus fatos, que o transformavam em água para beber.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.