Olhando através de 300 milhões de anos-luz para uma cidade monstruosa de galáxias, os astrónomos usaram o Telescópio Espacial Hubble da NASA para fazer um censo abrangente de alguns dos seus membros mais pequenos: 22.426 enxames globulares encontrados até à data.
O levantamento, publicado na edição de 9 de novembro da revista The Astrophysical Journal, permitirá aos astrónomos usar o campo de enxames globulares para mapear a distribuição de matéria e matéria escura no enxame galáctico de Coma, que contém mais de 1000 galáxias.
Dado que os enxames globulares são muito mais pequenos que galáxias inteiras – e muito mais abundantes – são um muito melhor indício de como a estrutura do espaço é distorcida pela gravidade do enxame de Coma.
De facto, o enxame de Coma é um dos primeiros lugares onde as anomalias gravitacionais observadas foram consideradas indicativas de uma grande quantidade de massa invisível no Universo – que depois seria chamada de “matéria escura”.
Entre os primeiros “lares” do Universo, os enxames globulares são “ilhas” em forma de globo de neve com várias centenas de milhares de estrelas antigas. São parte integrante do nascimento e crescimento de uma galáxia. Existem cerca de 150 na nossa Galáxia e, dado que contêm as estrelas mais antigas conhecidas do Universo, estavam presentes nos primeiros anos de formação da Via Láctea.
Alguns dos enxames globulares da Via Láctea são visíveis a olho nu como “estrelas” de aparência difusa. Mas, à distância do enxame de Coma, os seus enxames globulares aparecem como pontos de luz até mesmo para a visão supernítida do Hubble.
O levantamento encontrou os enxames globulares espalhados no espaço entre as galáxias. Ficaram órfãos das suas galáxias hospedeiras devido a quasi-colisões galácticas no interior deste denso aglomerado de galáxias. O Hubble revelou que alguns dos enxames globulares alinham-se como padrões semelhantes a pontes. Esta é uma evidência reveladora de interações entre as galáxias, onde se puxam gravitacionalmente umas às outras.
O astrónomo Juan Madrid do ATNF (Australian Telescope National Facility) em Sydney, Austrália, pensou sobre a distribuição dos enxames globulares em Coma quando examinava imagens do Hubble que mostravam enxames globulares que se estendiam até à orla de qualquer fotografia de galáxias no aglomerado galáctico de Coma.
O cientista estava ansioso por obter mais dados de um dos levantamentos do legado Hubble que foi projetado para recolher dados de todo o enxame de Coma, de nome “Coma Cluster Treasury Survey”. No entanto, a meio do programa, em meados de 2006, o poderoso instrumento ACS (Advanced Camera for Surveys) do Hubble teve uma falha eletrónica (O ACS foi posteriormente reparado por astronautas durante uma missão de manutenção do Hubble em 2009).
Para preencher as lacunas do levantamento, Madrid e a sua equipa obtiveram arduamente várias imagens do enxame galáctico, pelo Hubble, a partir de diferentes programas de observação do telescópio espacial.
Estas são armazenadas no Arquivo Mikulski do STScI (Space Telescope Science Institute) para Telescópios Espaciais em Baltimore, no estado norte-americano de Maryland. O especialista compôs um mosaico da região central do enxame, trabalhando com alunos do programa estudantil do NSF (National Science Foundation). “Este programa dá uma oportunidade aos alunos universitários, com pouca ou nenhuma experiência em astronomia, de ganhar experiência no campo,” comenta Madrid.
A equipa desenvolveu algoritmos para filtrar as imagens do mosaico Coma que tivessem pelo menos 100.000 fontes potenciais. O programa usou a cor dos enxames globulares (dominados pelo brilho das estrelas vermelhas envelhecidas) e a forma esférica para eliminar objetos estranhos – principalmente galáxias de fundo não associadas com o enxame de Coma.
Embora o Hubble tenha excelentes detetores com sensibilidade e resolução inigualáveis, a sua principal desvantagem é que têm campos de visão minúsculos. “Um dos aspetos mais interessante da nossa investigação é que mostra a incrível ciência que será possível com o planeado WFIRST (Wide Field Infrared Survey Telescope) da NASA, que terá um campo de visão muito maior que o Hubble,” comenta Madrid. “Seremos capazes de visualizar enxames galácticos inteiros de uma só vez.”
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