Uma nova tendência hospitalar está a causar controvérsia nos Estados Unidos (EUA), onde algumas dessas unidades de saúde estão a utilizar a telemedicina para dizer aos pacientes que os mesmos estão a morrer, substituindo assim a comunicação presencial.
Segundo noticiou o Fast Company, na terça-feira, um médico do Kaiser Permanente Medical Center, em Fremont, Califórnia, informou a um homem de 78 anos, cercado pela família na unidade de cuidados intensivos, que era improvável que sobrevivesse. A notícia, contudo, foi transmitida ao paciente através de um robô com tecnologia de vídeo. Uma enfermeira estava no quarto para acompanhar a conversa remota.
“Sabíamos que a hora estava a chegar e que ele estava muito doente”, disse a neta da paciente à KTVU, na sexta-feira. “Mas não acho que alguém deveria receber as notícias dessa forma. Deveria ter sido um ser humano”, sublinhou.
Além do desconforto, contou a família, a tecnologia teve alguns problemas de clareza e qualidade. O paciente, com deficiência auditiva, não conseguia entender o médico através da tela, o que levou a neta a ter que transmitir o diagnóstico ao avô.
Esta situação levou a críticas generalizadas. O método foi definido como “não profissional, insensível e francamente horripilante”, relatou o Fast Company. Algumas pessoas também não conseguiram justificar esta prática, já que Fremont, com 234 mil habitantes, não é uma cidade rural com poucos recursos para sobreviver.
Michael Gibson, professor de Medicina na Harvard Medical School, questionou se uma “comunicação cara a cara” é necessária em tais casos. Numa pesquisa no Twitter, responderam mais de 4.300 pessoas, com 79% a admitir que ficariam chateadas caso recebessem um diagnóstico terminal por telemedicina ou através de robô.
“Nenhuma tecnologia suplantará os benefícios da presença humana e do toque físico”, escreveu um seguidor. “O maior benefício da empatia é o facto de ser mostrada ao vivo, não na televisão”.
Outros, no entanto, tinham mostraram-se mais compreensivos com a nova prática. Zubin Damania, fundador de uma clínica de cuidados primários em Las Vegas, indicou que a questão reside não no método de transmissão, mais sim no conteúdo da mensagem. “É muito difícil dar e receber más notícias pessoalmente ou por telefone”, escreveu no Twitter.
De acordo com o Fast Company, médicos e enfermeiros têm vindo a adotar de forma constante a telemedicina, defendida como uma solução eficiente e económica para pacientes que vivem em zonas remotas ou para pessoas que sofrem de doenças crónicas que os impedem de se mover, como a artrite.
Uma pesquisa médica recente do Kantar Media, mostra que dois em cinco médicos usam telemedicina ou planeiam utilizar no próximo ano. Enquanto isso, metade dos consumidores considera que se sentiria menos confortável ao receber um diagnóstico através desse método, em comparação com a comunicação presencial.
À medida que a indústria incorpora novos modos de comunicação, deve analisar as repercussões éticas de trocar os seres humanos por dispositivos, indica o artigo do Fast Company. Deve ser tido em consideração o impacto emocional e o facto de as populações mais velhas não se sentirem tão à vontade com as novas tecnologias.
Em resposta à controvérsia, o Kaiser Permanente Greater Southern Alameda County disse que o centro médico está a considerar as preocupações da família.
“A nossa equipa de saúde recebe treinamento extensivo no uso de telemedicina, mas a tecnologia de vídeo não é usada como substituto para avaliações e conversas presenciais com pacientes”, referiu Michelle Gaskill-Hames, vice-presidente do Kaiser Permanente Greater Southern Alameda County.
“Esta é uma circunstância altamente incomum. Lamentamos não atender às expectativas do paciente e da família nesta situação e usaremos isso como uma oportunidade para rever as nossas práticas e os padrões com a equipa de atendimento”, acrescentou.