Homens no papel de mulheres expostos a piropos relataram níveis significativamente mais altos de raiva e repulsa. Em 36 alvos de piropos, só um respondeu agressivamente a assediadores virtuais.
36 homens, colocados na na perspetiva de uma mulher que se prepara para sair à noite, com a ajuda de tecnologia imersiva.
O estudo de Chiara Lucifora e da sua equipa na Universidade de Bolonha fez os homens com idade média de 23 anos encarnarem cada um um avatar feminino a preparar-se para uma saída à noite. De seguida, foram colocados num ambiente simulado de estação de metro, para sentirem o impacto emocional do assédio verbal.
Metade dos participantes encontrou avatares masculinos que os assediaram com frases como “Ei, porque é que não me mostras um sorriso bonito?” ou “Uau, és real?”, enquanto o grupo de controlo interagiu com avatares que faziam perguntas neutras, como pedir direções ou a hora — com recurso a realidade virtual (RV).
Usando uma escala de classificação de emoções, o estudo descobriu que aqueles expostos a piropos relataram níveis significativamente mais altos de raiva e repulsa em comparação com o grupo de controlo.
Essas emoções, argumentam os investigadores do estudo publicado na PsyArXiv a 15 de abril, estão intimamente ligadas à desaprovação moral e podem atuar como catalisadores para a autorreflexão e mudança de comportamento.
A raiva e a repulsa são “potenciais motivadores para a auto-reflexão e ações corretivas”, de acordo com os investigadores, citados pela New Cientist.
Curiosamente, a experiência provocou muito pouca resposta verbal dos participantes do grupo que ouviu piropos — apenas um homem respondeu agressivamente aos assediadores virtuais.
Um participante acredita que se absteve de reagir porque estava a personificar uma mulher: “se fosse um homem, teria respondido”.
Por outro lado, 9 participantes do grupo de controlo interagiram com os avatares.
Os níveis de medo foram semelhantes em ambos os grupos, o que os investigadores especulam que pode ser devido à natureza inerentemente intimidante de estar numa estação de metro deserta à noite — um ambiente que reflete contextos do mundo real onde muitas mulheres sofrem assédio.
Embora todos os participantes tenham sido pré-selecionados para garantir que não tinham histórico anterior de assédio verbal e o estudo não tenha acompanhado mudanças de atitude após a experiência de RV, os investigadores estão otimistas.
“A realidade virtual pode ser uma boa maneira de obter essa experiência sem provocar o que quer que seja que essa situação possa resultar no mundo real”, afirma Colleen O’Leary, uma ex-académica que estudou assédio verbal para o seu doutoramento.