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Afinal, a história da famosa médica do Antigo Egipto pode estar toda errada

Stzeman / Wikimedia

O vizir Ramose com a mulher Merit Ptah

A famosa médica do Antigo Egipto pode ter existido, mas tinha outro nome. Merit Ptah seria a mulher do antigo nobre Ramose.

Desde sempre que Merit Ptah, famosa médica do Antigo Egipto, é uma figura emblemática para as mulheres ligadas à Ciência. Porém, de acordo com o Science Alert, pode haver um pequeno grande problema: esta mulher pode, afinal, não ser quem se pensava.

Segundo o historiador médico Jakub Kwiecinski, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, a história desta antiga médica egípcia está completamente errada.

“A Merit Ptah está em todo o lado. Em posts online, em jogos de computador, em livros de história populares, há até uma cratera em Vénus com este nome. E, apesar dessas menções, não há provas de que realmente tenha existido”, explica o autor do estudo publicado, em novembro, no Journal of the History of Medicine and Allied Sciences.

O caso de Merit Ptah teve as suas origens, no início do século XX, quando a médica e feminista canadiana Kate Campbell Hurd-Mead publicou, em 1938, um livro sobre a história das mulheres no mundo da Medicina.

É nessa obra que a canadiana descreve a suposta médica do Antigo Egipto. “A primeira médica do ‘Império Antigo’ na quinta dinastia, ou por volta de 2730 A.C., praticou durante o reinado de Neferirika-ra”, escreveu.

Hurd-Mead refere ainda um túmulo, no Vale dos Reis, no qual havia “uma imagem de uma mulher chamada Merit Ptah, a mãe de um sumo sacerdote, que a descreve como a ‘Médica-chefe’“.

“Merith Ptah existia como nome no Império Antigo, mas não aparece em nenhuma das listas dos antigos curandeiros egípcios, nem sequer como um dos ‘legendários’ ou ‘casos controversos'”, afirma Kwiecinski.

“Também está ausente da lista de mulheres administradoras do Império Antigo. Não há túmulos do Império Antigo presentes no Vale dos Reis, onde a história coloca o filho de Merit Ptah, e só existem alguns túmulos nessa área maior, a Necrópole de Tebas”.

Isso não significa, no entanto, que não tenham existido médicas no Antigo Egipto. Na verdade, há uma mulher do Império Antigo que corresponde aos detalhes descritos por Hurd-Mead.

Nos anos 30, uma escavação em Giza descobriu o túmulo de Akhethetep, um cortesão que viveu durante a quinta dinastia, no qual se encontrava uma porta falsa com a descrição de Peseshet, sua mãe e que foi batizada de “Supervisora das Mulheres Médicas”.

Esta descoberta foi descrita em vários livros e um deles chegou mesmo à biblioteca pessoal de Hurd-Mead. Kwiecinski acredita que a médica canadiana confundiu Peseseth com a mulher do antigo nobre Ramose, que foi enterrado no Vale dos Reis, que se chamava Merit Ptah.

Apesar da confusão, o investigador considera que isto não retira importância ao que Merit Ptah ainda hoje representa. “Embora não seja uma personagem egípcia autêntica e não seja uma boa figura simbólica, é um símbolo real do esforço coletivo de recolocar as mulheres na história. É uma heroína genuína da luta feminista moderna”, escreveu Kwiecinski no seu artigo.

ZAP //

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