Com a esposa (Maria Vieira) ao seu lado, o candidato às eleições de 1991 apareceu para se “penitenciar”. O partido não tinha nome.
Nenhuma reacção na noite das eleições do passado domingo foi como esta. Nem perto. Mas as legislativas fazem sempre lembrar um dos – vários – momentos históricos de Herman José na comédia em Portugal.
O programa em causa é o Hermanias Especial Fim de Ano 1991/92 e o sketch é um retrato de um eventual candidato derrotado nas eleições legislativas de Outubro de 1991 – essas existiram mesmo, com vitória e maioria absoluta do PSD de Cavaco Silva.
O candidato (Herman José) aparece para o discurso da noite eleitoral, com a esposa (Maria Vieira) ao lado, apenas para se “penitenciar” e para assumir a responsabilidade da derrota.
Mas garante que fez tudo o que podia fazer durante a campanha eleitoral: “Beijei 367 crianças, andei com a minha esposa de sul a norte de Portugal, visitei três ilhas adjacentes. Andei por parques, jardins, bairros degradados”.
Mesmo que fosse um desconhecido para os eleitores: “Ninguém sabia quem eu era. Mas com todos falei. Todos me perguntavam, quando eu chegava: senhor doutor, senhor engenheiro, senhor arquitecto, onde é que está a televisão? E como não haviam câmaras, o povo pirava-se“.
Aí, chamou um sobrinho, que começou a acompanhar a campanha “com uma câmara às costas“, e a partir daí “a campanha disparou”, relata: As pessoas gritavam, choravam, diziam mal do Governo, e prometiam que iam votar em mim”.
“Gritei slogans, cantei cantigas do José Malhoa, disse poesias do António Couto. E como a aparelhagem era má, ninguém percebia nada. Mas eu gritava sempre muito. E o povo aplaudiu”.
Já na parte final da campanha eleitoral, o candidato sentia que tinha conquistado o eleitorado. E destacou o seu comício de encerramento, que decorreu… no Estádio da Luz. “Onde, por acaso, na mesma altura, decorria um jogo“.
O estádio estava cheio: “O povo, coitado, fingia que estava a ver o jogo de futebol. Mas, no fundo, eles estavam era comigo. Gritavam ‘Penalty! Fora o árbitro! Malandro!’ – mas olhavam-me com o canto do olho como que a dizer ‘é em ti que vou votar’“.
Os resultados do dia 6 de Outubro de 1991 mostraram um desfecho que o candidato não queria: “Percebi, eu e a minha esposa, que a mensagem falhara”.
“Escolheram o PSD. Está bem. Vamos ver o que é que vai acontecer. Não vou desistir, porque não tenho piscina como o professor Freitas do Amaral e ainda não me posso dar à luz de desistir”.
“Mas vou antes reflectir. Reflectir muito, porque só faltam quatro anos para as próximas eleições e eu ainda não arranjei nome para o meu partido“.
E foi embora, enquanto uma ou duas pessoas batiam palmas.