Há um estranho vírus quimérico no oceano

Uma equipa de cientistas identificou um novo tipo de vírus “quimérico”, a que deu o nome de mirusvírus, com traços nunca antes vistos. Pertence à família  Duplodnaviria, mas partilha um número significativo de genes com os vírus gigantes da família Varidnaviria.

Ao analisar dados da expedição Tara Ocean, que recolheu 35 mil amostras de água oceânica em 200 locais diferentes em todo o mundo, uma equipa internacional de  investigadores  identificou um tipo de vírus nunca antes visto.

A nova espécie, com longas cadeias de ADN de dupla hélice, foi designada mirusvírus, a partir do latim ‘mirus’ (‘estranho’), e pertence à família Duplodnaviria, que inclui espécies como o vírus da herpes.

Embora a sua herança evolutiva pareça estar ligada ao vírus da herpes, os investigadores afirmam que este grupo de vírus, nunca antes visto, tem características únicas.

“O mirusvírus afasta-se substancialmente de todos os outros grupos de vírus  anteriormente caracterizados”, dizem os autores do estudo, publicado a semana passada na revista Nature.

A descoberta do mirusvírus parece sugerir que, algures no tempo, o vírus da herpes infectou organismos unicelulares marinhos — para desde então se ter dedicado a infectar metade da humanidade.

Felizmente para nós, os mirusvírus não estão interessados em humanos e tendem a infectar apenas o plâncton unicelular.

Além de traços em comum com o vírus da herpes, o mirusvírus partilha um número significativo de genes com os vírus gigantes da família Varidnaviria.

“É por isso que consideramos que o mirusvírus é um vírus quimérico. É uma mistura de dois grupos diferentes de vírus”, diz ao Live Science Tom Delmont, corresponding author do estudo e investigador no Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica.

Gaïa, Delmont et al / Nature

“A descoberta deste vírus é uma chamada de atenção: ainda não compreendemos completamente a complexidade ecológica e evolutiva dos vírus de ADN de dupla hélice mais abundantes em ecossistemas-chave, como a superfície dos oceanos”, acrescenta o investigador.

“Precisamos ainda de descobrir e compreender muita coisa sobre os mirusvírus“, diz por seu turno o primeiro autor do estudo, Morgan Gaïa. “Ainda não foram cultivados em laboratório, não há imagens das suas partículas virais e temos de os estudar fora do seu habitat nos oceanos“.

Dr.  Gaïa, o que se passar no laboratório, fica no laboratório, está bem?

Armando Batista, ZAP //

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