Bolas geladas detetadas por astrónomos japoneses podem representar um novo tipo de estrela. “É um trabalho fascinante, embora bastante intrigante”.
Dois misteriosos — e gelados — objetos detetados na nossa galáxia estão a intrigar os astrónomos, que acreditam ter encontrado um novo tipo de estrela.
Estes corpos, inicialmente detetados em 2021 por Takashi Shimonishi juntamente com a sua equipa da Universidade de Niigata, desafiam a classificação tradicional e as teorias existentes sobre a formação e composição das estrelas.
Descobertos com dados do telescópio espacial japonês AKARI, os objetos apareceram como bolas de gás gelado na mesma região do céu, mas não estavam relacionados, devido à sua separação.
As suas propriedades sugeriam que poderiam ser nuvens densas de gás ou estrelas jovens, mas o seu isolamento das regiões de formação estelar intrigou a equipa: os exames de infravermelhos do AKARI não tinham resolução suficiente para identificar as caraterísticas precisas dos objetos, o que levou a uma investigação mais aprofundada.
“Tentámos o nosso melhor para reproduzir as propriedades, mas atualmente não conseguimos encontrar nenhuma teoria que possa explicar as propriedades da energia espetral”, diz Shimonishi ao New Scientist.
Para desvendar o mistério, a equipa do especialista japonês utilizou o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) no Chile. Mas quem diria: as observações de alta resolução apenas aprofundaram o enigma.
Os objetos, compostos por monóxido de carbono e monóxido de silício, são relativamente pequenos — entre o tamanho do nosso sistema solar e dez vezes maior. O elevado teor de silício, tipicamente associado a eventos cósmicos explosivos, como a ejeção de material por estrelas jovens, entrava em conflito com a sua natureza fria e gelada e a sua localização isolada.
“É um trabalho fascinante, embora bastante intrigante”, diz Jane Greaves da Universidade de Cardiff sobre o estudo publicado a 9 de janeiro no arXiv: “os dois objetos parecem ter caraterísticas contraditórias, sendo suficientemente frios para terem gelo em abundância, mas também emissões infravermelhas como uma estrela.”
Uma possibilidade é que se trate de um novo tipo de estrela, mas as suas caraterísticas únicas levantam outras questões. Greaves sublinha a necessidade de mais dados para esclarecer até que ponto os objetos são semelhantes entre si.
Thomas Haworth, da Universidade Queen Mary de Londres, salienta a coincidência invulgar de encontrar apenas dois objetos deste tipo muito próximos, mas a distâncias muito diferentes.
“É um pouco estranho que só tenham sido encontrados dois destes objetos e que estejam ambos muito próximos um do outro no céu, embora a distâncias muito diferentes”, sublinha o britânico.
Para resolver estes mistérios, a equipa de Shimonishi candidatou-se a tempo de observação com o Telescópio Espacial James Webb (JWST). A alta sensibilidade e a resolução espetral do telescópio poderão fornecer análises detalhadas das composições geladas e poeirentas dos objetos, lançando luz sobre as suas origens e histórias térmicas.