Há milhares de formas de vidas escondidas no Ártico. Até quando?

Os seres vivos que se escondem nos glaciares do Ártico adaptam-se muito facilmente a condições extremas. Mas as alterações climáticas têm vindo a ameaçar a estabilidade de todo o ecossistema.

Os tapetes de gelo e neve na Gronelândia e na Islândia estão repletos de formas de vida microscópicas.

O derretimento do gelo influencia e é influenciado pela atividade ou inatividade desses organismos.

É o que diz um estudo publicado em novembro, no Geobiology, sobre “microrganismos ativos e dormentes em superfícies de glaciares”.

“Os dados sugerem que os microrganismos respondem rapidamente a condições dinâmicas e mutáveis ​​típicas do seu ambiente natural”, lê-se no estudo.

É explicado que esses seres vivos se adaptam muito bem às condições ambientais, alternando entre estados metabólicos ativos e inativos.

Experiências que os pesquisadores fizeram durante o verão, em glaciares dessas duas regiões do Ártico, revelaram que mais da metade das bactérias encontradas estavam ativas – em média, de 45% a 62%.

As restantes estavam adormecidas ou mortas – de 38% a 55%.

Grande parte dessas formas de vida hibernam na época fria e só acordam no verão, com o derretimento do gelo.

“Uma pequena poça de água derretida num glaciar pode facilmente ter 4000 espécies diferentes”, diz o microbiologista Alexandre Anesio, da Universidade de Aarhus, na Suécia, citado pelo Science Alert.

“Nos glaciares vivem bactérias, algas, vírus e fungos microscópicos. É todo um ecossistema que não sabíamos que existia até recentemente”, esclareceu o cientista.

As superfícies dos glaciares estão sujeitas a condições de congelamento e degelo frequentes, bem como a ciclos sazonais distintos, durante os quais os microrganismos devem enfrentar períodos prolongados de frio e escuridão que duram vários meses.

Uma das descobertas mais interessantes do estudo foi o facto de, apenas um dia após o descongelamento, alguns desses micróbios adormecidos recuperaram a capacidade de ler genes e produzir blocos de construção de aminoácidos.

As descobertas sugerem que as comunidades microbianas – na neve e no gelo – podem responder rapidamente às mudanças no derretimento do gelo.

Mas até que ponto?

Os cientistas escreveram que os resultados são sugestivos de que os microrganismos do Ártico são capazes de responder a curtos eventos de derretimento que ocorrem na escala de tempo de horas/dias.

“O que é suficientemente curto para que esse derretimento periódico nas superfícies das geleiras impacte de forma significativa o funcionamento dos ecossistemas glaciais”, esclareceram.

No entanto, prevê-se que, no futuro, as alterações climáticas acelerem o derretimento dos glaciares e os microrganismos passem a viver em condições que não lhes garantam estabilidade.

Se, por um lado, a adaptação rápida ao ambiente é considerada uma característica positiva; por outro, as mudanças drásticas também podem desestabilizar os organismos e, consequentemente, todo o ecossistema.

“Prevê-se que o aumento do aquecimento global no inverno se torne dominante como resultado de mudanças climáticas futuras e, portanto, traga mudanças ecológicas no Ártico”, alertou Alexandre Anesio.

Uma melhor compreensão da atividade dos microrganismos nas superfícies dos glaciares é fundamental para abordar a crescente preocupação com as mudanças climáticas, nas regiões polares.

Miguel Esteves, ZAP //

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