Há mais de 2 mil anos, um génio africano usou um galho para provar que a Terra é redonda

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Bernardo Strozzi / Wikimedia

O pai da geografia, Eratóstenes de Cirene.

Há mais de 2 mil anos, Eratóstenes de Cirene, um génio africano considerado o pai da geografia, usou um galho para provar que a Terra é redonda.

Ainda há quem não acredite que a Terra seja redonda, mesmo com todos os avanços científicos — da geografia à astronomia. Mas para um sábio da antiguidade, Eratóstenes de Cirene foi preciso apenas um galho para determinar esse facto — e ainda conseguir estimar, com boa precisão, o tamanho da circunferência do planeta.

Eratóstenes partiu do conhecimento de um fenómeno importante: o solstício de verão, ou seja, o dia em que um dos polos da Terra tem a sua inclinação máxima em relação ao Sol.

Quando ele ocupava o posto de diretor da Biblioteca de Alexandria, encontrou um manuscrito científico que dizia que, na então cidade de Siena — hoje chamada de Assuão, no sul do Egito —, nessa data específica do ano o sol do meio-dia ficava tão perfeitamente perpendicular ao solo, no chamado zénite, que era possível vê-lo com facilidade no fundo de um poço.

Isso despertou nele uma ideia. Se medisse a inclinação da luz solar numa outra localidade ao meio-dia do solstício, sabendo a distância de um ponto ao outro com conhecimentos básicos de matemática, conseguiria calcular a circunferência da Terra. Para tal, bastaria utilizar uma relação trigonométrica.

Foi preciso preparação, claro. Eratóstenes fez o que era comum na altura: contratou um itinerante. Eram profissionais treinados para caminhar longas distâncias com uma passada regular, justamente a fim de medir distâncias entre cidades.

Antes disso, o pensador achou que seria possível utilizar a matemática também para calcular essa distância. “Ele pretendia descobrir a medida entre Siena e Alexandria utilizando o tempo percorrido por camelos”, conta o geógrafo Leandro Sales Esteves, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Mas desistiu da ideia devido à falta de precisão encontrada nesse método”.

Para contratar os itinerantes agrimensores, o geógrafo conta que Eratóstenes precisou de autorização do governo do Egito.

Em linha reta, são cerca de 800 quilómetros — hoje, por estrada, o trajeto mais curto mede 1.011 quilómetros e pode ser percorrido a pé em 204 horas de caminhada. Na unidade de medida utilizada na época (estádio, que tinha pouco mais de 157 metros), a distância foi determinada como de 5.040 estádios.

No dia do solstício de verão, em Alexandria, Eratóstenes fixou um galho perpendicular ao solo. A ideia era medir o comprimento da sombra projetada no solo ao meio-dia e, assim, encontrar o ângulo de inclinação.

Chegou ao número de 7,2 graus, ou seja, o total da circunferência (360º) dividido por 50. Dessa maneira, fazendo a triangulação matemática que já era conhecida, bastava multiplicar a distância entre as duas cidades por 50 para chegar ao tamanho total da Terra. Eratóstenes chegou ao valor equivalente a 39.750 quilómetros. Convenhamos, muito perto do que se sabe hoje: a circunferência da Terra mede 40.075 quilómetros.

“Eratóstenes também calculou com grande precisão o raio terrestre, chegando à medida de 6.366 quilómetros”, diz Esteves. “Atualmente, sabe-se que essa medida é de 6.371 quilómetros”.

Terra plana vs. Terra redonda

Para investigadores contemporâneos, um ponto relevante da descoberta de Eratóstenes é que ele ilustra que a noção de Terra esférica já era vigente. Afinal, para alguém pensar em medir a circunferência do planeta, era preciso antes partir do entendimento de que havia uma circunferência a ser medida.

“Sem dúvidas, a atuação de Eratóstenes prova que, desde a antiguidade, a noção de que a Terra é redonda já existia”, comenta o historiador Vítor Soares, que gere o podcast ‘História em Meia Hora’. “Essa questão da prova é interessante porque, nela, temos tanto uma questão filosófica quanto uma questão matemática.”

Afinal, para conseguir aquilo que conseguia, o sábio da antiguidade utilizou um método trigonométrico.

“Desde os gregos já se sabe que a Terra é redonda”, sentencia Eliseu Savério Sposito, professor e investigador na Universidade Estadual Paulista. “Como os gregos desenvolveram a astronomia, um ramo da matemática, criaram modelos tridimensionais para explicar o movimento, aparente, dos planetas. Isto ainda no século IV a.C.”.

O geógrafo cita vários nomes além de Eratóstenes. O filósofo e astrónomo Heráclides do Ponto propôs que a Terra girava em torno do próprio eixo. O astrónomo e matemático Aristarco de Samos apresentou a teoria do sistema heliocêntrico, com a Terra a girar em torno do Sol.

Nesse sentido, Eratóstenes fez ciência da mesma maneira que se faz ciência hoje: apoiando-se em estudos dos seus pares. No seu caso, através de uma experiência concreta.

// BBC

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1 Comment

  1. Dizer que era africano é forçar em demasia! Nasceu no Norte de África, mas era grego e um exemplo da cultura no grega no Egipto! Os gregos mal chegaram ao Egipto realizaram as mais variadas descobertas, inclusive, o fenómeno que espantava tanto os egípcios: as enchentes anuais que davam ao Egipto a sua riqueza e que começavam durante a estação do ano Akhe – eram 3 às estações para o egípcios antigos. Apesar dos egípcios usarem nilometros para antever as cheias, estes eram essencialmente dedicados à religião personificada da pessoa do Faraó que sabendo de antemão que o Nilo estava a encher, dava início às festividades desse importante evento. Este é apenas um exemplo, há mais, mas exigiria mais tempo e espaço.

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