Omran Daqneesh, de 5 anos de idade, tornou-se esta semana o símbolo da guerra na Síria mas infelizmente não é a única criança na mesma situação.
A fotografia do menino sentado na cadeira laranja de uma ambulância correu o mundo nos últimos dias.
Nela está Omran Daqneesh, o sírio de cinco anos que sobreviveu a um bombardeamento aéreo no distrito de Qaterji, em Aleppo.
Este sábado soube-se, por sua vez, que o irmão de Omran, uma criança de dez anos, não resistiu aos ferimentos e faleceu.
“Ali, de 10 anos, sucumbiu sábado aos ferimentos. Ele foi gravemente ferido no mesmo bombardeamento que Omran, na passada quarta-feira, em Alepo”, anunciou o Observatório Sírio dos Direitos do Homem (OSDH).
Infelizmente, há muitas outras imagens como a de Omran, sobretudo registadas na Síria, onde a guerra civil dura também há cinco anos.
Então porque é que esta fotografia em particular tocou tantas pessoas nos quatro cantos do mundo?
Foi esta a pergunta feita pela BBC à correspondente da emissora Lise Doucet e ao fotógrafo da AP Muhammed Muheisen, ambos com uma vasta experiência na cobertura dos conflitos no Médio Oriente.
Na perspetiva dos dois repórteres, esta fotografia conseguiu captar “o horror da guerra de uma forma pungente”.
“A imagem assombra. É uma criança sem esperança, sozinha. Conta uma história completa. E as crianças são as verdadeiras vítimas da guerra”, disse Muheisen à BBC.
“Este é o poder da fotografia. Alcançar o coração das pessoas. Começam a sentir-se conectadas. Se tenho um filho, olho para a foto e para o meu filho e penso: tenho sorte em estar vivo”, acrescentou.
Omran simboliza toda uma geração de crianças sírias que ainda não sabem o que é viver em tempos de paz.
Num relatório publicado em março, a UNICEF divulgou que uma em cada três crianças no país não conhecem outra realidade a não ser a do conflito.
Tal como aconteceu com a fotografia de Aylan Kurdi, a criança de três anos que apareceu numa praia turca depois de morrer afogada a tentar atravessar o Mediterrâneo, os dois profissionais acreditam que, mais uma vez, “temos uma janela de oportunidade”.
“Há mais de cem mil crianças como Omran, a viver diariamente as circunstâncias punitivas da vida em Aleppo”, afirma Doucet.
“Agora vemos um tsunami de reações de choque, alarme e tristeza nas redes sociais. Mas o que tem de mudar mesmo é a situação dentro do país e este será o grande teste para a diplomacia”, declarou a jornalista.
Até quando?
Recentemente, as autoridades russas têm sugerido a possibilidade de fazer um acordo sobre como gerir a situação em Aleppo.
A cidade está no meio do fogo cruzado entre rebeldes e as forças do regime do presidente sírio Bashar al-Assad.
O secretário de Estado americano, John Kerry, e o chanceler russo, Sergei Lavrov, já se reuniram várias vezes para discutir a situação na Síria.
Na quinta-feira passada, o enviado da ONU Staffan de Mistura chegou mesmo a interromper uma reunião sobre ajuda humanitária em Genebra, na Suíça, frustrado pela inação e alegando que já houve mais do que tempo para arranjar uma solução.
“Muitas pessoas já perguntam se Aleppo, assim como toda a guerra síria, não será uma guerra sem fim”, lamenta Doucet.
ZAP / BBC