Guiné-Bissau e Angola estão entre os dez países mais perigosos para se nascer, com taxas de mortalidade neonatal superiores a 45 recém-nascidos por cada mil nascimentos, revela um estudo publicado na revista The Lancet.
Numa série especial sobre a mortalidade neonatal, que reúne o contributo de 54 especialistas de 28 instituições em 17 países, a revista científica diz apresentar o quadro mais claro de sempre sobre as hipóteses de sobrevivência de um recém-nascido e os passos que devem ser tomados para reduzir as mortes de bebés.
A tabela dos países mais arriscados para recém-nascidos é liderada pela Serra Leoa, com 49,5 bebés em cada mil a morrerem antes dos 28 dias.
Nos nove países que se seguem há oito africanos – Somália, Guiné-Bissau, Angola, Lesoto, República Democrática do Congo, Mali, República Centro-Africana e Costa do Marfim – e o Paquistão.
Com 45,7 recém-nascidos mortos em cada mil nascimentos em 2012, a Guiné-Bissau é o terceiro país mais perigoso para se nascer, seguido de Angola, com uma taxa de mortalidade neonatal de 45,4.
A diferença entre os dois países está nos progressos alcançados, já que a Guiné-Bissau reduziu a sua taxa de mortalidade neonatal em 22% entre 1990 e 2012, enquanto em Angola a taxa apenas caiu 12% no mesmo período.
Há a acrescentar que 29,6 em cada mil partos na Guiné-Bissau foram de nados-mortos, enquanto em Angola a taxa de nados-mortos é de 23,9 em cada mil.
CPLP reduzem mortalidade neonatal
Moçambique é outro país lusófono entre os 30 piores de 162 países classificados, com uma taxa de mortalidade neonatal de 30,2 por cada mil nascimentos e uma taxa de nados-mortos de 28,1.
Ainda assim, o país reduziu a sua taxa de mortalidade neonatal em 44% entre 1990 e 2012.
Timor-Leste surge na 117.ª posição dos 162 países analisados, com 24,4 em cada mil bebés a morrerem antes de completarem quatro semanas de vida e 13,2 em cada mil a nascerem sem vida.
Segue-se São Tomé e Príncipe, que tem uma taxa de mortalidade neonatal de 19,9 em cada mil nascimentos e onde 21,9 em cada mil nascimentos resulta num nado-morto.
Com uma taxa de mortalidade neonatal de 10 e 14,5 nados mortos em cada mil nascimentos, Cabo Verde é o país africano lusófono com melhores resultados, embora, tal como São Tomé e Príncipe, não surja classificado no ranking global.
Cabo Verde é também o país lusófono africano com maiores progressos, já que a taxa de mortalidade neonatal caiu 53% entre 1990 e 2012.
Finalmente, o Brasil tem uma taxa de mortalidade neonatal de 9,2, taxa que registou uma queda de 68% desde 1990.
“Estas mortes são quase todas evitáveis”
No estudo, os investigadores lamentam também que muitos dos bebés que morrem até às 28 semanas não chegam a ser registados, o que reflete “a aceitação do mundo de que estas mortes são inevitáveis”.
“Este fatalismo, falta de atenção e falta de investimento são os motivos por detrás do lento progresso na redução da mortalidade neonatal e de um progresso ainda mais lento na redução dos nados mortos. Na realidade, estas mortes são quase todas evitáveis”, diz a coordenadora da investigação, Joy Lawn, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
Segundo os dados divulgados, a Guiné-Bissau está entre os dez países onde é menos provável que uma criança esteja registada ao chegar ao primeiro aniversário.
Com efeito, apenas 14% dos bebés guineenses são registados antes de completarem um ano de idade.
Em Angola, a percentagem de bebés com menos de um ano registados é de 21%, enquanto em Moçambique é de 29%.
/Lusa