As sociedades humanas tornaram-se grandes e complexas nos últimos milhares de anos, principalmente devido à agricultura e à guerra, concluiu-se num estudo divulgado recentemente e elaborado durante mais de uma década. Essa conclusão, contudo, não é consensual.
De acordo com o investigador Peter Turchin, do Complexity Science Hub Viena, na Áustria, um dos autores do estudo publicado na Science Advances e citado pelo New Scientist, a melhor forma de perceber a evolução das sociedades é através da adoção de uma abordagem global.
Nesse sentido, em conjunto com a sua a equipa, construiu a base de dados Seshat, que acompanha as mudanças na estrutura social em todo o mundo nos últimos 10 mil anos. Esta é composta por informações provenientes de pesquisas realizadas em vários campos, como a arqueologia, a sociologia, os estudos religiosos e a economia.
“Começamos em 2011. Foi um trabalho enorme”, contou Turchin, acrescentando: “queríamos ter um conjunto de dados informativos com o máximo de variabilidade possível”, visto estarmos a testar “teorias globais, ideias que se aplicam a todas as sociedades humanas”.
Os investigadores criaram igualmente um modelo de computador para analisar os dados, tendo concluído que quase todas as ideias apontam para a agricultura como uma pré-condição para a complexidade social, em parte porque permitia excedentes de alimentos e acumulação de riqueza.
Segundo o especialista, foram também testadas as duas escolas básicas de pensamento sobre a evolução das sociedades. A primeira indica que foi a cooperação entre os povos que levou à evolução; a segunda refere que foram os conflitos, internos e externos.
Ao testar as duas teorias, através do modelo criado, Turchin e os colegas acreditam ter encontrado evidências que sugerem que complexidade das civilizações foi impulsionada, em grande parte, pela guerra externa.
A adoção de novos equipamentos militares, indicaram, precedeu a uma mudança radical no tamanho geográfico das sociedades. A guerra de carruagens, por exemplo, se espalhou na Eurásia e em África há cerca de 3.700 anos. Alguns séculos depois, surgiram sociedades muito maiores do que as anteriores – incluindo o Novo Reino Egípcio, que contava com um milhão de quilómetros quadrados.
“Considero que a nossa ideia tem uma base muito sólida”, afirmou Turchin, que não espera, no entanto, uma aceitação universal das conclusões.
“Parte de mim adora este tipo de trabalho”, que tenta “reduzir a História a uma série de equações”, referiu Roderick Campbell, da Universidade de Nova Iorque. Mas, para o especialista, há alguns problemas relacionados com a pesquisa, nomeadamente a codificação de variáveis complexas numa mesma base de dados.
Já David Wengrow, da University College London, considera que as conclusões do estudo podem ser um artefato das suposições iniciais. Em 2021, Wengrow e o colega David Graeber publicaram um livro no qual contestam esses resultados e questionam se todas as sociedades humanas eram pequenas e simples antes da agricultura.
As guerras tendem a agrupar territórios onde estão outro tipo de civilizações….que depois tem que viver forçosamente sob as regras do invasor, por isso se tornam mais complexas.