“Qual é o sabor da nossa língua quando é aprendida como língua estrangeira?”
Para os portugueses, que nasceram a ouvir português e cresceram a falá-lo, é difícil ou praticamente impossível conhecer essa sensação. Por isso, cabe aos estrangeiros confessarem-se.
Para o escritor norte-americano Mitchell Kriegman, por exemplo, a melhor palavra portuguesa não é um palavrão, mas exige boca suja. “Guardanapo” é a sua palavra preferida, e “comboio” a segunda.
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E já que puxamos pelo assunto, há quem veja a piada na contradição, num país em que “as portas se abrem ao contrário”, relata o casal Amy e Scott no seu blogue. A palavra em português para a inglesa ‘pull’ é “puxe“, cuja pronúncia é exatamente igual ao inglês ‘push‘, que significa… “empurre”. “Não é de todo confuso”, ironizam.
“Paralelepípedo“, “cuecas” ou as divertidas “abacaxi” e “tartaruga“: sondando a Internet é possível perceber que quem está a aprender português adora dizer “maçã“, e “porra“, quando está frustrado. E gosta de usar o diminutivo “-inho” como sufixo.
“Beijinhos” é gira e “toque” também, porque quando se pronuncia parece, diz-se pelo Reddit, que se está literalmente a tocar em algo. Um utilizador acha “piriquito” uma palavra linda; já “cu” é muito curto e agressivo. Outro adora chamar “bicho” à namorada, mas já sabe que deve evitar usar o seu feminino. Brasileiros com quem falamos gostam especialmente de “gajo” (ou “gaijo”, respeitando o sotaque do Norte).
O professor na Universidade Nova de Lisboa Marco Franco Neves, mestre em Línguas, Literaturas e Culturas e famoso nas redes sociais por lançar curiosidades sobre a Língua Portuguesa, recordou recentemente um discurso de uma funcionária da Comissão Europeia e as palavras e expressões portuguesas que a alemã achava mais engraçadas.
“Pequenos nadas” é uma delas. É-nos natural ouvir esta expressão, mas para quem não está habituado, “é um pouco estranha”, admite o linguista: “o nada não existe, como é que pode ser pequeno ou grande?”.
Outra expressão estranha é esta que “quase que faz lembrar um umbigo nas pernas” a quem não fala a língua portuguesa de Portugal: “barriga das pernas”.
“Céu da boca” é aos olhos da alemã uma expressão “muito poética”, que quase lembra um beijo.
A luz entre a tarde e a noite, o lusco-fusco, “tem uma repetição de sons que tornam a expressão engraçada para os falantes de outra língua”.
E há uma expressão muito visual, que quando a dizemos, “quase que vemos uma pessoa a correr de um lado para o outro” — dizemos que anda no “corre-corre”.
Mas então e o “fuz”? Na língua portuguesa, temos as palavras “faz”, “fez”, “fiz”, “foz”… mas não há “fuz” à vista. O que seria o — ou a — “fuz” que fecharia esta sequência?
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