Acabou o romance e o Grupo de Visegrado está dividido. O V4 mais parece um “V2+2”

Kancelaria Premiera / Flickr

Cimeira de Visegrado

Hungria e Polónia separam-se a nível ideológico da República Checa e da Eslováquia, ameaçando a solidez do Grupo de Visegrado.

O Grupo de Visegrado, também conhecido por V4, é uma aliança entre quatro países da Europa Central: Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia. Embora tenha raízes históricas, a aliança formou-se a 15 de fevereiro de 1991, durante uma reunião entre os chefes de Governo dos países membros, em Visegrado.

O objetivo era reforçar a cooperação e promover a integração do grupo à União Europeia. Não podia ter resultado melhor, com os quatro países a juntarem-se em 2004.

Com a adesão à UE, a aliança do Grupo de Visegrado perdeu importância. Ainda assim, além da economia, a cultura, a educação e a ciência são áreas em que a cooperação ainda se prolonga.

Mas agora, talvez mais do que nunca, os quatro países estão politicamente divididos. Como realça o POLITICO, o V4 mais parece agora um “V2+2”.

Isto devido à crescente divergência entre a Polónia e a Hungria — que se afastam rapidamente daquilo que é uma democracia liberal — e a República Checa e a Eslováquia — que se aproximam mais dos ideais europeus.

“A Hungria e a Polónia estão hoje em dia numa séria disputa com o resto da UE, enquanto a República Checa e a Eslováquia não estão no mesmo plano”, disse o ministro checo dos Assuntos Europeus, Mikuláš Bek, em declarações ao jornal Hospodářské Noviny.

Esta divergência não significa que é o fim daquilo que o Grupo de Visegrado representa. Os quatros países ainda se alinham em muitos outros assuntos.

A estratégia energética da União Europeia — que até está a causar um braço de ferro entre França e Alemanha — é algo em que os países parecem concordar. No Conselho Europeu de dezembro, as delegações checa e polaca procuraram encontrar um consenso após uma tentativa fracassada de reformar o Sistema de Comércio de Emissões do bloco europeu.

A proposta da Comissão Europeia para definir os critérios de apoio financeiro para energias sustentáveis para o futuro abre a porta a que o gás natural e a energia nuclear possam ser considerados para receberem fundos europeus, em certos casos.

Em sentido contrário, a aliança também tem outras divergências. Uma delas, entre Praga e Varsóvia, diz respeito à mina de carvão a céu aberto de Turów, localizada perto da fronteira checa.

A Polónia e a República Checa mantêm um contencioso acerca da central energética, já que Praga acusa Varsóvia de estender ilegalmente o período de exploração dessa mina de carvão a céu aberto, a qual culpa por problemas de contaminação ambiental.

“Não vamos suspender as operações da mina de Turów”, disse o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki aos jornalistas, na semana passada, citado pela Polska Agencja Prasowa.

“Há uma divergência política e cultural crescente entre estes países”, disse Eugeniusz Smolar, membro do conselho do Centro de Relações Internacionais de Varsóvia. “Existem áreas comuns, mas qualquer romance acabou”.

Tanto a Eslováquia como a República Checa estão afastadas dos seus passados populistas, enquanto a Hungria e a Polónia colam-se à direita política.

O Governo polaco e o Governo húngaro são objeto de duras críticas por parte das instituições europeias pelas políticas homofóbicas, polémicas reformas judiciais e cortes nos direitos civis das mulheres.

Quando o primeiro-ministro checo, Petr Fiala, assumiu o cargo no ano passado, a Eslováquia respirou de alívio.

“Foi um grande incentivo para mim ver pessoalmente os resultados das eleições parlamentares checas”, disse o ministro do Ambiente da Eslováquia, Ján Budaj, ao POLITICO. “Agora as chances mudaram para dois contra dois”, acrescentou, referindo-se à divisão existente no Grupo de Visegrado.

Na última cimeira do grupo, em julho de 2021, os integrantes do V4 evitaram referir as divergências com a União Europeia e outros parceiros comunitários.

“O significado da cooperação do V4 está enfraquecido. No entanto, isto pode mudar após as eleições nos dois países, talvez já este ano no caso da Hungria”, disse Mikuláš Bek.

“Já há alguns anos, alguns países viram isto como V2 mais V2″, disse um membro do Governo checo ao POLITICO, acrescentando que agora “estamos basicamente em extremos opostos”.

Daniel Costa, ZAP //

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