“Grotescamente vilanesco”. Exposto plano saudita para viciar países pobres em petróleo

USDoD / Wikimedia

O príncipe saudita Mohammed bin Salman

Uma investigação de seis meses realizada pelo Centre for Climate Reporting (CCR) e pelo canal britânico Channel 4 News revelou um plano secreto da Arábia Saudita para aumentar a dependência global do petróleo.

O relatório do CCR e do Channel 4 expõe um extenso programa de investimentos do Príncipe Herdeiro Mohammed bin Salman, com o objetivo de tornar as economias emergentes da África e da Ásia mais dependentes do petróleo.

A investigação foi publicada esta segunda-feira, a poucos dias do início da Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP28), que teve início esta quinta-feira nos Emirados Árabes Unidos.

O plano saudita, sob a direção do príncipe herdeiro e designado “Oil Demand Sustainability” (OSP), inclui dezenas de projetos destinados a incorporar um modelo de desenvolvimento dependente de combustíveis fósseis e de alto teor de carbono nessas regiões.

O programa envolve grandes entidades sauditas, como o Fundo de Investimento Público Saudita de 700 bilhões de dólares, a Saudi Aramco, a Sabic e ministérios chave do país.

Os objetivos da iniciativa incluem aumentar o uso de veículos a gasolina e diesel, incrementar as vendas de combustível para jatos através de mais viagens aéreas e opor-se a subsídios para veículos elétricos.

No decorrer da investigação, um repórter clandestino obteve uma confissão de um funcionário saudita, que confirmou que o objetivo principal do OSP é estimular a procura de petróleo, contrariando os esforços globais para reduzir o consumo de petróleo e abordar as alterações climáticas.

No entanto, o Ministério da Energia da Arábia Saudita apresenta o OSP como uma iniciativa de desenvolvimento sustentável para ajudar os países em desenvolvimento.

Segundo a Raw Story, a iniciativa agora exposta está a ser fortemente contestada.

Mohamed Adow, diretor da ONG Power Shift Africa, compara as ações da Arábia Saudita às de traficantes de drogas e empresas de tabaco, por explorar a vulnerabilidade das nações africanas aos combustíveis fósseis.

Também Andrew Simms, coordenador da Rapid Transition Alliance, critica o plano saudita, cujas táticas antiéticas considera serem semelhantes às usadas pelas empresas de tabaco.

O ativista climático e autor norte-americano e Bill McKibben escreveu por seu turno esta terça-feira que “estes documentos, que temos que ler para podermos acreditar, têm a mesma importância que as revelações de há quase uma década sobre as mentiras climáticas da Exxon“.

“É difícil, penso eu, imaginar algo mais malévolo do que esta série de propostas pelas companhias petrolíferas e países produtores de petróleo para continuar a destruir o planeta”, acrescentou McKibben, que descreve o plano saudita como “quase caricaturalmente vilanesco“.

O plano saudita é exposto numa altura crítica em que os cientistas alertam que  2023 baterá provavelmente o record de temperatura do planeta, e em que políticas de emissões inadequadas ameaçam um aumento de 3°C nas temperaturas até o final do século.

ZAP //

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