O Governo turco ainda não indicou uma suspeita sobre a autoria do atentado de sábado na Turquia, que provocou mais de 100 mortos numa manifestação pela paz, enquanto a esquerda turca voltou a acusar diretamente as autoridades.
As principais pistas parecem apontar para as redes ‘jihadistas’ que atuam na Turquia, apesar de o governo islamita-conservador ainda não ter indicado oficialmente uma suspeita concreta, para além de prometer combater “todo o género de terrorismo”, incluindo o curdo e o de extrema-esquerda.
O primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu admitiu, durante um encontro com o líder de oposição, o social-democrata Kemal Kiliçdaroglu, que o atentado foi efetuado por dois bombistas suicidas, como afirmou este último em declarações aos media.
Numerosos analistas têm sublinhado a grande semelhança deste atentado com o ocorrido em Suruç, em 20 de julho, onde também morreram 33 ativistas da esquerda pró-curda.
Na ocasião, um jovem cidadão turco, que tinha passado por campos de treino do grupo Estado Islâmico (EI) na Síria, foi o autor do atentado suicida, ao transportar uma carga de TNT reforçada com bolas de aço, para aumentar o efeito mortífero, tal como sucedeu na manhã de sábado, em Ancara.
Segundo a cadeia televisiva CNNTurk, a polícia já determinou inclusive que o explosivo usado no sábado foi do mesmo tipo.
Baseada nestes indícios, a esquerda turca acusou diretamente o Governo de induzir ou, pelo menos, permitir o atentado, devido à ausência de medidas contundentes contra o extremismo islâmico que se expande pele país.
Kiliçdaroglu disse ter pedido ao primeiro-ministro a destituição dos responsáveis do Interior e da Justiça, pela sua incapacidade de prevenir o maior massacre da história da Turquia.
Apesar de a polícia assegurar que combate as redes de apoio ao EI, muitos ativistas assinalam, citados pela agência noticiosa Efe, que qualquer reunião de esquerda é alvo de mais vigilância e perseguição policial do que as atividades de captação aberta de ‘jihadistas’, e recordam que o autor do massacre de Suruç também tinha antecedentes policiais.
A oposição criticou igualmente a insistência de Davutoglu em dedicar os três dias de luto nacional não apenas às vítimas do massacre mas também a todas as “vítimas do terrorismo”, incluindo expressamente os soldados e polícias caídos em combate contra a guerrilha curda do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Este discurso parece constituir um contrapeso à tragédia que ocorreu numa manifestação de esquerda, apelando deste modo ao voto nacionalista a três semanas de legislativas antecipadas.
Davutoglu apenas convidou para um “diálogo nacional” os dirigentes do social-democrata Partido Republicano do Povo (CHP) e do Partido de Ação Nacionalista (MHP, direita radical), excluindo o dirigente do pró-curdo e de esquerda Partido Democrático dos Povos (HDP), de Selahattin Demirtas, cujos simpatizantes foram o alvo do atentado de sábado.
As organizações que convocaram a marcha pela paz – sindicatos de esquerda, a organização profissional dos médicos e dos engenheiros – já convocaram, para esta segunda e terça-feira, uma greve de protesto pelo que consideram a responsabilidade governamental na tragédia.
O abismo entre o Governo e o HDP refletiu-se inclusive na guerra dos números sobre os mortos no atentado, com o partido de esquerda a afirmar que puderam ser identificados 120 corpos, além de oito cadáveres não determinados.
O gabinete do primeiro-ministro referiu-se por sua vez a 95 mortos e hoje assegurou que 65 pessoas continuam internadas, mas não atualizou o número de mortos.
/Lusa
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