Gouveia e Melo quer recuperar o Bérrio (que já devia ter sido abatido)

Marinha

Bérrio, o único reabastecedor da Marinha

Uma das primeiras ordens do novo Chefe da Armada foi mandar reavaliar as condições do único reabastecedor da Marinha.

O reabastecedor Bérrio tinha sido mandado abater em 2020 pelo antecessor de Gouveia e Melo, sendo que o dirigente atual pretende colmatar a falha até à aquisição de um novo, em 2027, na Lei de Programação Militar (LPM).

O Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), Almirante Henrique Gouveia e Melo, deu esta quarta feira instruções para que seja reavaliada a condição material do reabastecedor de esquadra Bérrio, tendo em vista uma possível reativação do navio, até à aquisição de um novo.

De acordo com o Diário de Notícias, este estudo será realizado pela Marinha, através do setor da área do material.

O NRP Bérrio foi mandado abater em janeiro de 2020, devido a graves problemas estruturais, deixando o país sem o seu único navio reabastecedor, fundamental para a sustentação e apoio logístico de forças navais nacionais e internacionais.

Gouveia e Melo pretende, com esta medida, que seja reavaliada e analisada novamente a possibilidade de se encontrar uma solução viável para a recuperação do “Bérrio”, durante o período de transição até à aquisição de um meio definitivo.

A proposta de abate tinha sido feita pelo Almirante Mendes Calado, ex-CEMA, que realçou na altura que estava “a ser estudada uma alternativa”. Esta situação ocorreu depois de uma sucessão de erros de cálculo e défice de planeamento.

Em 2019, a Marinha investiu numa reparação profunda do Bérrio, que permitiria prolongar a sua “vida” por mais 10 anos, prevendo apenas a aquisição de um novo, no âmbito da LPM, em 2027.

“De facto, estava previsto que o NRP Bérrio iniciasse uma ação de manutenção profunda, para estender o seu já longo ciclo de vida por mais 10 anos, tendo em consideração que a LPM apenas prevê o início do processo de aquisição de um novo navio reabastecedor em 2027″, explicou o então porta-voz da Marinha.

No entanto, “nos preparativos para elaboração da lista de fabricos, foi realizada uma inspeção profunda ao navio, indicando que a necessidade de intervenção era muito superior ao inicialmente previsto, pelo que seria muito mais extensa e onerosa”.

A Marinha ponderou “a informação constante no relatório da inspeção, a estimativa da despesa na possível reparação e o ciclo de vida do navio (a atingir perto de 50 anos)” e chegou à conclusão que “a sua reparação não ” era “viável, quer do ponto de vista operacional, quer do ponto de vista económico”.

Segundo o porta-voz, “oportunamente, dar-se-á início ao processo de abate do navio ao efetivo dos navios de guerra da Marinha”.

Na altura, o ex-CEMA Almirante Melo Gomes alertou: “é catastrófico, um desastre repetidamente anunciado”, afirmou.

Melo Gomes, que liderou a Marinha portuguesa entre 2005 e 2010, sublinhou que o abate do Bérrio era “catastrófico para a nossa capacidade de intervenção” pois “inibe a Marinha de projetar poder para distâncias além das nossas águas e deixam de ser possíveis missões como aquela, em 1998, de resgate de 1200 pessoas da Guiné Bissau ou a operação de emergência na Ilha das Flores”.

Melo Gomes, também comandante da European Maritime Force, acrescentou ainda que, sem o Bérrio, a Marinha não ia “conseguir sequer manter os padrões de treino para reabastecimento no mar, que só vão ser possíveis com apoio de parceiros ou da NATO, embora seja muito difícil pois os reabastecedores são escassos“.

O NRP Bérrio é um reabastecedor de esquadra, construído no Reino Unido no final da década de 1960, que foi aumentado ao serviço da Royal Navy em 1970.

O navio foi adquirido por Portugal em 1993, já com 23 anos. Em 2020 atingiu os 50 anos de atividade, ultrapassando a idade média de vida útil destes navios.

Nessa altura, dos cinco navios da classe “Rover”, só o NRP Bérrio e o KRI Arun (903), da Marinha da Indonésia, se mantinham ativos.

A manutenção do navio foi-se tornando cada vez mais difícil, segundo o então porta-voz de Mendes Calado, porque “a obsolescência logística dos seus equipamentos e o fim de ciclo desta classe de navios na Royal Navy, causou a disrupção da cadeia de fornecimento de sobressalentes e de outros componentes, tornando a manutenção do Bérrio extremamente onerosa”.

Desde 2020 que a Marinha tem vindo a estudar opções de aquisição de um reabastecedor, no âmbito de um projeto cooperativo com países aliados ou parceiros, que permitam colmatar esta lacuna no sistema de forças nacional.

O Bérrio herdou o nome de uma das caravelas da frota de Vasco da Gama, quando este descobriu o caminho marítimo para a Índia.

Chamou-se “Bérrio”, por ter sido comprada a D. Manuel Bérrio, um piloto natural de Lagos, muito considerado no reinado de D. Manuel.

Segundo a Marinha, é um “navio fundamental para a sustentação de uma Força Naval no mar garantindo apoio logístico a diversas Forças Navais nacionais ou aliadas”.

“Por rotina, participa em exercícios nacionais e internacionais, sendo fundamental para o treino e aprontamento de outras unidades navais”, conclui.

ZAP //

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