O “golpe da paternidade” está a enriquecer os homens britânicos

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Os homens britânicos estão a receber milhares de libras num esquema para se fazerem passar por pais de bebés de mulheres migrantes clandestinas, segundo uma reportagem da BBC.

Por até 10 mil libras, os britânicos adicionam os seus nomes às certidões de nascimento — permitindo que uma criança obtenha a cidadania do Reino Unido e dando às mães um caminho para garantir a permissão de residência no país.

Os golpistas estão a usar o Facebook para fazer negócios e afirmam ter ajudado milhares de mulheres dessa maneira. O Facebook diz que tal conteúdo é proibido pelas suas regras.

O esquema, revelado pelo programa Newsnight, da BBC, está a acontecer em diferentes comunidades do Reino Unido.

Uma jornalista disfarçou-se e, passando-se por uma mulher grávida a viver ilegalmente no Reino Unido, conversou com pessoas que oferecem estes serviços. Um dos operadores do esquema, chamado Thai, disse-lhe que tinha vários homens britânicos que poderiam fingir ser pais e ofereceu um “pacote completo” por 11 mil libras.

Thai descreveu o processo como “muito fácil” e disse que “faria de tudo” para conseguir um passaporte do Reino Unido para a criança. Thai, que fez o anúncio no Facebook, disse que inventaria uma história “convincente” para enganar as autoridades com sucesso.

Ele apresentou a jornalista disfarçada a um britânico chamado Andrew, que disse que se passaria por pai. Andrew receberia 8 mil libras, ou 70%, do montante total.

Durante o encontro, Andrew mostrou o seu passaporte para provar que era cidadão do Reino Unido. Também tirou selfies com a jornalista. Quando Thai foi posteriormente confrontado sobre seu envolvimento na trama, negou qualquer irregularidade e disse que “não sabia de nada“.

O “golpe da paternidade” é descrito como “incrivelmente elaborado” pela advogada de imigração Ana González.

“É muito sofisticado, incrivelmente difícil de monitorizar”, diz. “De certa forma, é apenas uma prova de quão desesperadas essas mulheres estão e o quanto elas estão preparadas para passar para garantir o direito de permanecer no Reino Unido”.

Se uma mulher migrante estiver no Reino Unido ilegalmente e der à luz uma criança de um cidadão britânico ou de um homem com permissão de permanência por prazo indeterminado, o bebé é automaticamente britânico de nascimento.

A mãe pode então solicitar um visto de família, que lhe dará o direito de permanecer no Reino Unido — e solicitar a cidadania no tempo devido.

“Esta regra é para proteger as crianças, não para dar vistos a mulheres que não têm documentos no Reino Unido”, diz González. “Não é uma brecha. Não deve ser vista como tal.”

A BBC não conseguiu estimar a escala da fraude, pois o Ministério do Interior não conseguiu fornecer dados sobre o número de casos que investigou.

“Não é um caso único”

No entanto, no ano passado, 4860 vistos familiares foram concedidos a “outros dependentes” — uma categoria que inclui aqueles que se candidatam a permanecer no Reino Unido como pais de crianças britânicas.

Fornecer deliberadamente detalhes falsos numa certidão de nascimento é considerado crime no Reino Unido.

O Ministério da Educação diz que tem medidas para prevenir e detetar fraudes de imigração usando certidões de nascimento falsas. Segundo o órgão, “uma certidão de nascimento por si só pode não ser prova suficiente de paternidade” e nos casos em que isso precisa ser estabelecido, “provas adicionais podem ser solicitadas para permitir que as nossas verificações sejam concluídas satisfatoriamente”.

No entanto, o advogado de imigração Harjap Bhangal questiona se medidas suficientes estão a ser tomadas: “Não é um caso único, são potencialmente milhares. O Ministério do Interior simplesmente não percebeu isso.”

Bhangal diz que a prática ocorre em muitas comunidades de imigrantes diferentes, incluindo as da Índia, Paquistão, Bangladesh, Nigéria e Sri Lanka, e que acontece há muitos anos.

A reportagem da BBC descobriu que a prática ilegal é amplamente divulgada em alguns grupos vietnamitas do Facebook para candidatos a emprego.

Mensagem privada

Também foram encontradas dezenas de publicações de contas a gabar-se das suas credenciais como pais falsos adequados, bem como mulheres à procura de homens britânicos para se passarem por pais.

Uma conta publicou: “Estou grávida de 4 meses. Preciso desesperadamente de um pai com cidadania entre 25 e 45 anos.”

Outra dizia: “Sou um pai com um livro vermelho [gíria vietnamita para passaporte do Reino Unido]. Se está grávida e não tem pai, envie-me uma mensagem privada”.

A Meta, dona do Facebook, diz que não permite “a solicitação de adoções ou fraude de certidão de nascimento no Facebook”. A empresa diz que continuará a remover conteúdo que viole assuas políticas.

Uma mulher contou que pagou 9 mil libras a um homem para se passar por pai de seu filho. “Ele era 30 anos mais velho que eu. Ouvi dizer que ele já tinha feito isso antes com outra mulher”, disse.

Outra mulher disse que pagou 10 mil libras a um homem para se passar por pai — apenas para descobrir que ele havia mentido sobre seu estatuto de imigração.

“Apenas um dia após receber a certidão de nascimento do meu bebé, descobri que ele não tinha cidadania. Fiquei louca, porque já anotei os dados dele na certidão de nascimento. Não pude mudar.”

A mulher agora tem um estranho como pai registado do seu bebê, e ela e seu filho ainda não têm permissão para permanecer no Reino Unido.

Harjap Bhangal diz que o Ministério do Interior precisa de investigar mais pedidos de visto que acendem um “sinal de alerta”.

“Se uma criança afirma ser britânica e tem um pai britânico e o outro pai não tem visto — esse deve ser o caso perfeito para um simples pedido de teste de ADN.”

No Reino Unido, não há exigência de teste de ADN ao registar um nascimento ou solicitar o passaporte britânico de uma criança.

Bhangal não acredita que muitas pessoas estejam a ser processadas por este crime. “É por isso que as pessoas estão a fazer isto — porque não há medo de represálias.”

ZAP // BBC

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1 Comment

  1. Já existe o golpe da barriga que é bem pior.. e em mt maior escala!..
    Desse ninguém fala, certo?!
    Na comunicação social misandrica e de ódio ao homem!..

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