A primeira produção portuguesa está prestes a chegar à Netflix. Glória passa-se no final dos anos 60 e tem como cenário a Guerra Fria. Fruto de uma parceria entre a RTP e a produtora SPi, a série será inspirada em factos reais e deverá estar disponível ainda este ano na plataforma de streaming.
A série, com argumento original de Pedro Lopes (Auga Seca) e produção de Tiago Guedes (A Herdade), baseia-se numa história verídica que põe Portugal como elemento improvável no cenário da Guerra Fria.
A história passa-se na aldeia da Glória do Ribatejo, local onde se situava o centro de transmissões americano RARET (RAdio RETransmissão). O posto esteve em funcionamento durante 45 anos e tinha como principal objetivo a emissão de propaganda ocidental para o Leste comunista. É a partir destes dados que se dá o ponto de partida da série com a personagem de João Vidal.
João é engenheiro e oriundo de famílias apoiantes do Estado Novo. Mudou de visão depois de ter sido confrontado com a realidade da guerra colonial, onde compreendeu que “seja qual for o lado em que estiver, o mundo (…) nunca é a preto e branco”.
Recrutado pelo KGB, a sua função é a difusão de mensagens anticomunistas para os países de Leste, ao desempenhar “missões de espionagem de alto risco que podem mudar o curso da história portuguesa e mundial”.
O trabalho de João é de alto risco para o governo português, uma vez que pode colocar Portugal no seio de uma guerra. A aldeia da Glória é o centro entre Washington e Moscovo, numa guerra pelo controlo da Europa – e aquela pequena aldeia transforma-se num “improvável palco da Guerra Fria”.
A história “fria” da RARET
O posto da RARET (Radio American Retransmission) foi instalado em 1951, em Salvaterra de Magos. O projeto integrava-se de um acordo entre Portugal e os EUA, do qual fazia parte a transmissão de mensagens destinadas a passar para lá da chama Cortina de Ferro e a confundir o leste comunista, conta o jornal O Mirante, que é citado pelo site Fantastic TV.
Com a ajuda de tradutores dos países de leste, tinha a função de fazer passar a mensagem com a máxima clareza possível. Chegaram a trabalhar para a RARET, mais de quinhentas pessoas, que não tinham uma noção completa do significado do seu trabalho.
O projeto foi-se expandindo ao longo dos anos. No interior, foram construídos campos desportivos, piscinas, habitações para os funcionários, um colégio e uma maternidade. Um dos eventos mais marcantes das instalações da RARET foi o incêndio de 1985, que destruiu grande parte do material.
Com o fim da das transmissões, o equipamento restante foi entregue à Junta de Freguesia e vendido a uma sucata local. Os 200 hectares onde se localizavam as instalações americanas estão ainda abandonadas.
Na série, os segredos da RARET assumem um papel preponderante. Além da missão de João Vidal, há outro infiltrado do KGB na linha do mistério. Dassaev será interpretado por Albano Jerónimo, agente que é forçado a deixar Portugal depois de várias ameaças, que o põem em perigo de vida.
Os mistérios da central ribatejana tentam ser protegidos a todo o custo por personagens como Brito (Carlotto Cotta), que chega a tentar atirar Dassaev de uma varanda para proteger o que se esconde na RARET.
As gravações da série já terminaram e pode estrear ainda em 2021
A ficção portuguesa continua a somar pontos e a fazer-se ouvir por terras internacionais: Glória é a primeira produção nacional a marcar presença na lista de conteúdos da plataforma de streaming. Com argumento original de Pedro Lopes e produção de Tiago Guedes, Glória resulta de uma parceria entre a RTP e a produtora SPi.
O elenco é bem conhecido. Miguel Nunes, Carolina Amaral, Victoria Guerra, Afonso Pimentel, Adriano Luz e Gonçalo Waddington são alguns dos nomes de peso e representam ao lado de Joana Ribeiro, Marcelo Urgeghe, Sandra Faleiro, Carloto Cotta, Maria João Pinho, Inês Castel-Branco, Rafael Morais e Leonor Silveira.
As gravações dos dez episódios da primeira temporada já terminaram, confirma o Fantastic. Além do Ribatejo, Glória teve também filmagens de exterior na cidade de Lisboa e em locais como o Cinema São Jorge. A estreia na Netflix – que já tem uma página dedicada à série – está apontada para acontecer ainda este ano; para além disso, a série será mais tarde também exibida na RTP.
Em declarações ao Espalha-Factos, Gonçalo Reis, presidente cessante do Conselho de Administração (CA) da RTP, afirmava em setembro que Glória é “um marco muito importante numa trajetória“, a do investimento na ficção nacional que a RTP tem seguido nos últimos anos.
Esta é mais uma aposta da RTP nas produções nacionais, depois do sucesso de produções como Auga Seca, produção com a TV Galiza que conquistou público também em Espanha e que faz atualmente parte do catálogo da plataforma de streaming HBO.
ZAP // EF