Ajudou a criar a Inteligência Artificial (IA), mas saiu da Google com medo que esta nos destruísse. Aparentemente, isso foi só porque “as pessoas não gostam de ser substituídas”. Por ele, substituía-se a humanidade.
Funcionário da Google durante uma década e reconhecido como um dos pioneiros da Inteligência Artificial (IA), o que lhe valeu, inclusive, a alcunha de “padrinho” da IA, o cientista de computação Geoffrey Hinton não podia ter sido mais direto a expressar a sua opinião sobre este “bebé” que, em tão poucos anos, se tornou tão grande.
Numa palestra que deu em dezembro de 2023 sobre Ética na Ciência, que incidiu sobre a eventual substituição da inteligência biológica pela inteligência digital, o cientista — conhecido pelo seu trabalho no desenvolvimento de redes neurais convolucionais e algoritmos de retropropagação, fundamentais para muitas aplicações de IA atuais — foi confrontado com uma sensível questão:
“Se uma IA superinteligente destruir a humanidade, mas criar algo objetivamente melhor em termos de consciência, é a favor ou contra este desfecho?”.
Neste momento, Hinton não podia ter sido mais sincero na sua resposta. “Na verdade, sou a favor“, confessou, “mas penso que seria mais sensato dizer que sou contra”, reforçou, talvez a pensar nas consequências das suas declarações.
“As pessoas não gostam de ser substituídas”, sustentou, sem se prolongar muito mais.
“Há muitas coisas boas nas pessoas, mas também há muitas coisas más. Não é certo que sejamos a melhor forma de inteligência existente“, afirmou.
“De uma perspetiva de uma pessoa, claro que tudo gira à volta das pessoas, mas podemos chegar eventualmente a um ponto em que encaramos termos como ‘humanista’ como racistas” — uma resposta que lhe valeu um simples “Ok” por parte da entrevistadora.
Além de alarmantes, estas não deixam de ser declarações surpreendentes quando vindas de Hilton.
O “padrinho” das redes neurais profundas, que contribuiu significativamente para o desenvolvimento de algoritmos e teorias que possibilitaram avanços significativos no campo da IA, deixou a Google em maio do ano passado, arrependido por todos os seus esforços na criação da tecnologia e cada vez mais preocupado com as suas consequências.
“É difícil ver como é que se poderá evitar que maus agentes usem isto para coisas más”, disse na altura ao New York Times. “Alguns acreditavam que estas coisas podiam vir a ser mais inteligentes do que as pessoas. Mas a maioria pensava que estava longe. E eu achei que estava longe. Pensei que levaria 30 a 50 anos ou ainda mais tempo. Obviamente, já não penso assim”, avançou o especialista.
Ainda mais alarmante é o facto de o próprio reconhecer que não é “inconcebível” que uma inteligência artificial geral (AGI) de nível humano possa destruir a humanidade tal como a conhecemos, confessou à CBS News, em março do ano passado.