Os animais são usados para fazer companhia aos soldados e para ajudar a combater as infestações de ratos nas trincheiras — mas também são úteis como instrumentos de propaganda.
No meio do conflito em curso na Ucrânia, os gatos emergiram como protagonistas inesperados e comoventes da narrativa da guerra.
As redes sociais ucranianas estão repletas de imagens e histórias de gatos a consolar e fazer companhia aos soldados.
Estes animais de estimação abandonados ou separados dos donos, são muitas vezes oriundos de vilas próximas devastadas pela guerra e procuram refúgio com os humanos no meio do caos dos bombardeamentos, campos de minas e ataques de drones.
“Quando esta pequena criatura assustada vem até nós e procura proteção, como podemos dizer não? Somos fortes, por isso protegemos os seres mais fracos…”, refere Oleksandr Yabchanka, um médico de combate do exército ucraniano.
Além do apoio emocional, estes gatos desempenham funções práticas ao ajudarem a combater infestações de ratos nas trincheiras, protegendo os mantimentos e cabos dos equipamentos, explica o Politico.
A gata vadia Karolina até conseguiu cumprir uma missão quase impossível: fazer Yabchanka gostar de gatos. “Um dia, a Karolina saltou para o nosso local de dormir, mesmo não tendo permissão para fazê-lo. Começámos a ralhar. Em resposta, ela começou a dar à luz. Foi assim que conseguimos uma família de seis gatos“, explica.
A história de Syrsky, um gato coincidentemente baptizado em honra ao Comandante das Forças Terrestres do Exército Ucraniano Oleksandr Syrsky, também exemplifica esta relação especial. Encontrado numa casa abandonada, Syrsky foi adoptado pelos soldados e ficou encarregado de se livrar dos ratos nas trincheiras.
O animal tornou-se popular nas redes sociais, ajudando até a arrecadar 147 mil euros numa campanha para a compra de artilharia. “Ele recebeu esse nome porque gosta de queijo [syr em ucraniano]. Claro, um gato com o mesmo nome do nosso general já virou piada militar”, explica Roman Sinicyn, um oficial do exército ucraniano e dono de Syrsky, o gato.
Russos também recorrem aos gatos
Do lado russo, que já usa golfinhos no seu esforço de guerra, a propaganda também passou a incorporar gatos no seu exército, num esforço para humanizar os seus soldados face às acusações de crimes de guerra e à brutalidade do conflito.
Vários órgãos de comunicação locais já publicaram histórias de soldados russos que cuidam de gatos abandonados, retratando um lado mais carinhoso dos militares.
No final do ano passado, o departamento regional do Ministério de Situações de Emergência em Oryol, no oeste da Rússia, informou que enviou um gato chamado Marusya para a frente para ajudar a combater as infestações de ratos.
“Ela ajudará a elevar a moral dos soldados e a proteger o seu sono, defendendo o abastecimento de alimentos. Temos a certeza de que Marusya ficará bem e logo voltará para casa!”, afirmou o ministério num comunicado.
O uso de gatos na propaganda não é novo para a Rússia. Após a anexação da Crimeia em 2014, um gato chamado Mostik tornou-se uma mascote nacional para a ponte do Estreito de Kerch, um projecto condenado pelo Ocidente.
Tanto na Ucrânia como na Rússia, os gatos tornaram-se mais do que animais de estimação ou controladores de pragas; são símbolos de resiliência, conforto e, por vezes, propaganda.