As amizades são muitas vezes vistas como seguros refúgios, mas todos temos um ou outro amigo que nos manipula o psicológico de uma forma que nos leva mesmo a questionar a realidade. Eis 5 maneiras de lidar com um “gaslighter”.
Parece dramático, mas o fenómeno — conhecido como gaslighting — acontece até em pequenas discussões. Exemplificando muito rapidamente:
— “Foste comprar o jantar como te disse?”
— “Não, não disseste para comprar nada”
— “Amor, eu disse-te para comprares jantar”
E… não disse.
Gaslighting é um comportamento subtil, mas persistente em algumas pessoas, e isso pode deixar qualquer um de nós desorientado e inseguro em relação a si próprio.
Reconhecer e lidar com esta manipulação é fundamental para proteger a sua saúde mental, explica o especialista Mark Travers no Psychology Today, que traz cinco passos para lidar com um amigo gaslighter.
1. Reconheça os seus padrões
O primeiro passo para lidar com um gaslighter é reconhecer que isso está a acontecer, explica o psicólogo. Normalmente, o gaslighting envolve táticas como negar factos, distorcer palavras ou fazer com que se sinta demasiado sensível ou irracional.
Frases comuns como “estás a imaginar coisas” ou “isso nunca aconteceu” são sinais de alerta.
Um estudo recente, publicado na revista Current Approaches in Psychiatry, salienta que o gaslighting pode ocorrer em vários tipos de relações e que está frequentemente enraizado em desequilíbrios de poder e dependência entre indivíduos.
Nas amizades, o gaslighting pode manifestar-se de forma subtil — o seu amigo pode estar constantemente a ignorar os seus sentimentos ou a dizer que é demasiado sensível.
Se se encontrar frequentemente a questionar as suas perceções após interações com esse amigo, é provável que isso seja um sinal de gaslighting. A consciência destas táticas é crucial para recuperar o seu sentido de identidade e proteger o seu bem-estar emocional.
2. Fixe-se na sua própria realidade
O gaslighting distorce a sua perceção da realidade. De acordo com a socióloga Paige Sweet, o fenómeno não é apenas um problema psicológico, mas está também profundamente ligado às desigualdades sociais e às dinâmicas de poder. Os abusadores exploram estas dinâmicas para controlar o sentido da realidade das suas vítimas.
Para combater este fenómeno, é essencial basear-se nas suas próprias experiências. Uma forma de o fazer é documentar as interações com o seu amigo. Manter um diário de conversas e eventos ajudá-lo-á a identificar discrepâncias e a validar a sua versão dos acontecimentos.
Confiar nos seus instintos também é importante — se algo lhe parecer estranho, confie nesse sentimento. A sua intuição pode servir de guia através da confusão criada pelo gaslighting.
O autocuidado é outro aspeto importante para se manter no seu lugar. Envolver-se em atividades que reforcem o seu sentido do eu e da realidade pode ajudá-lo a manter-se ligado ao que é verdadeiro. Informar-se sobre o gaslighting, tanto através de pesquisas como de histórias pessoais, também o pode ajudar a reconhecer e a resistir à manipulação.
3. Trace limites
O gaslighting prospera em relações em que os limites são pouco claros, permitindo que o manipulador controle a situação sem enfrentar consequências. A exclusão social pode desencadear uma dor emocional semelhante à dor física. Isto realça o facto de o medo de ser excluído poder tornar as pessoas mais suscetíveis à manipulação, uma vez que podem procurar a aprovação do manipulador para evitar a rejeição.
Estabelecer limites firmes é fundamental para se proteger desta dinâmica. Quando um amigo desvaloriza os seus sentimentos ou distorce a realidade, é importante comunicar assertivamente os seus limites.
Por exemplo, pode dizer: “Não gosto que invalides as minhas experiências. Vamos deixar de sair juntos se não conseguirmos respeitar as perspetivas um do outro”.
4. Procure a validação de um sistema de apoio
Os gaslighters tentam muitas vezes isolar as suas vítimas, fazendo-as sentir que mais ninguém compreenderá a sua situação.
Procurar a validação de amigos, familiares ou profissionais de confiança pode ajudá-lo a recuperar a perspetiva. Falar com alguém fora da relação onde ocorre gaslighting permite-lhe verificar se as suas percepções são corretas.
Um terapeuta ou conselheiro pode dar-lhe uma visão imparcial e ajudá-lo a equipar-se com ferramentas para lidar com a manipulação emocional. Ter um sistema de apoio também lhe dá a certeza de que não está “louco” ou a imaginar coisas. É um passo crucial para recuperar a sua realidade e auto-confiança.
5. Considere o futuro da amizade
A exposição prolongada ao gaslighting pode corroer a sua autoestima e levar a um aumento da ansiedade. Um estudo deste ano alerta para os efeitos nocivos que o gaslighting pode ter na saúde mental, especialmente entre os jovens adultos, e sublinha a importância de dar prioridade ao bem-estar emocional em vez de manter relações tóxicas.
A dada altura, poderá ter de avaliar se vale a pena salvar a amizade. Embora seja natural criar laços e resistir a terminar relações, continuar uma amizade que mina constantemente o seu sentido de identidade é prejudicial. Se o seu bem-estar está em causa, talvez seja altura de seguir em frente.
Terminar uma amizade nunca é fácil, mas por vezes é necessário para preservar a sua saúde mental, lembra o especialista.