Foi o maior primata de todos os tempos. Cientistas descobrem por que se extinguiu

ZAP // Dall-E-2

Conceito artístico de um Gigantopithecus blacki

Um estudo recente lançou luz sobre as causas da extinção do Gigantopithecus blacki, o maior primata conhecido até hoje.

Com um peso aproximado de 250 quilogramas e uma altura de 3 metros, o Gigantopithecus blacki foi o maior primata que se conhece.

O gigantesco primo afastado dos humanos, que habitou as florestas do que é hoje o sul da China durante milhões de anos, extinguiu-se há cerca de 300.000 anos.

Ninguém sabia porquê.

Um novo estudo, publicado esta quarta-feira na revista Nature, proporciona agora uma compreensão abrangente da forma como as mudanças ambientais e as limitações dietéticas contribuíram para o desaparecimento do G. blacki.

O Gigantopithecus blacki foi trazido à atenção da ciência pela primeira vez em 1935, depois de o antropólogo Gustav von Koenigswald ter descoberto um enorme dente numa loja de medicina em Hong Kong.

Inicialmente, os cientistas acreditaram que a espécie tivesse laços com os gorilas, mas um estudo de 2019 revelou que o G. blacki estava geneticamente mais próximo dos orangotangos.

Apesar de o enormeprimata partilhar o seu habitat com uma espécie de orangotango, o Pongo weidenreichi, apenas o G. blacki se extinguiu — e a sua extinção é um mistério de longa data na paleontologia.

O novo estudo, liderado por Yingqi Zhang , investigador da Academia Chinesa de Ciências, e Kira Westaway, paleontóloga da Universidade de Macquarie, na Austrália, usou seis técnicas de datação independentes em fósseis provenientes de 22 cavernas.

Os resultados do estudo permitiram concluir que, entre 295.000 e 215.000 anos atrás, a população de G. blacki diminuiu de uma área outrora vasta para uma pequena região na Região Autónoma de Guangxi Zhuang.

A análise das condições ambientais da região durante este período mostrou mudanças significativas, nomeadamente uma escassez de água.

Estudos de pólen revelaram também ter ocorrido, há cerca de 700.000 a 600.000 anos, uma transição de florestas densas para áreas de arbustos e pastagens, levando à escassez da dieta preferida de frutas do G. blacki e de fontes de água.

À medida que as florestas que constituíam o seu habitat diminuíam, o G. blacki recorreu a uma dieta menos nutritiva de casca e ramos. E, ao contrário do P. weidenreichi, que se adaptou expandindo sua dieta para incluir folhas, insetos e pequenos animais, o grande tamanho do G. blacki impediu-o de se adaptar a essas mudanças.

A incapacidade de escalar ou perseguir pequenas presas, combinada com o stress de uma dieta limitada, levou finalmente à extinção do maior primata de todos os tempos.

Concavenator / Wikipedia

Conceito artístico de um Gigantopithecus blacki

Apesar do progresso significativo na compreensão das razões da extinção do G. blacki que o estudo nos trás, a sua aparência exata continua a ser um mistério, pois até agora foram encontrados muito poucos registos fósseis da espécie.

Tendo apenas ossos da mandíbula e dentes para estudar, a aparência real deste enorme macaco ainda é um enigma para resolvermos’, diz Zhang, citado pela revista Science.

“Assim, a busca continua. Estamos a ficar melhores a encontrar cavernas com vestígios do G. blacki‘, afirma o investigador. “Ainda não encontrámos ossos, mas acho que estamos a chegar mais perto”.

Armando Batista, ZAP //

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