Afinal, o foguetão descontrolado que vai colidir com a Lua não é um Falcon 9

Os astrónomos dizem que afinal não é um SpaceX Falcon 9 que está prestes a atingir a Lua — mas que poderá ser um foguetão chinês Long March 3C lançado em 2014.

Segundo foi amplamente noticiado há cerca de três semanas, um foguetão Falcon 9 da SpaceX estaria em rota de colisão com a Lua, depois de ter passado quase sete anos a vaguear pelo Espaço.

Os observadores acreditavam que o rocket — aproximadamente com uma massa de quatro toneladas — deveria colidir com a Lua a uma velocidade de 2.58km/segundo numa questão de semanas.

Mas, de acordo com a Space.com, Bill Gray, o astrónomo responsável pela descoberta do impacto iminente, anunciou agora ter cometido um erro ao identificar o corpo em rota de colisão como uma parte do foguetão Falcon 9 que ajudou a lançar o satélite DSCOVR – Deep Space Climate Observatory em 2015.

Gray sugere que, afinal, o corpo em causa poderá ser na realidade parte do foguetão chinês Long March 3C que lançou a missão Chang’e 5-T1 na sua viagem até à Lua em outubro de 2014.

Esta nave espacial foi um predecessor de Chang’e 5, a missão chinesa que em 2020 foi à Lua e trouxe de volta amostras de solo lunar recolhidas pelo seu rover robótico.

Gray, que gere o software do Projeto Plutão usado para localizar objetos próximos da Terra, publicou esta semana uma nota de correção no seu website, após receber uma nota de Jon Giorgini, engenheiro do Jet Propulsion Lab da NASA.

Giorgini escreveu a Gray, a de 12 fevereiro, explicando que a trajetória do DSCOVR “não se aproximava particularmente da lua, e que seria portanto um pouco estranho se a segunda fase do foguetão que a lançou se tivesse afastado o suficiente para a atingir”.

“Incentivado pelo e-mail de Jon, procurei nos meus arquivos de e-mail para me lembrar porque tinha originalmente identificado há sete anos o objeto como a segunda fase do DSCOVR. Fiz essa pesquisa confiante de que provaria que o objeto era, de facto, a segunda fase do DSCOVR”, escreveu Gray.

Gray tinha usado dados do Catalina Sky Survey, projeto do Near Earth Object Observation Program que rastreia objetos próximos da Terra para avaliar as ameaças ao nosso planeta.

Cerca de um mês após o lançamento do DSCOVR, o CSS encontrou um corpo, designado WE0913A, que no início se acreditava ser um objeto natural.

“Pouco tempo depois, um astrónomo brasileiro notou que o objeto estava a orbitar a Terra, não o Sol, sugerindo que poderia ser um objeto feito pelo homem” explica Gray.

Após algum tempo de conversa com o astrónomo, Gray e outros investigadores descobriram que o WE0913A passou pela lua dois dias após o lançamento do DSCOVR.

Gray acrescenta “eu e outros investigadores considerámos então que o objeto seria a segunda fase do Falcon 9. O corpo tinha o brilho que esperaríamos, e tinha aparecido na altura esperada, movendo-se numa órbita razoável, mas as provas eram circunstanciais em vez de totalmente conclusivas”.

Em retrospetiva, Gray afirma que deveria ter notado “algumas coisas estranhas” sobre a órbita do WE0913A. “No seu ponto mais alto estaria perto da órbita da lua, no seu ponto mais baixo (perigeu), cerca de um terço dessa distância. Teria esperado que o perigeu estivesse próximo da Terra. Parecia bastante alto”.

Inicialmente, Gray pensou que estas variações poderiam dever-se a fugas de combustível, o que é muito comum em fases de foguetões ao fim de alguns anos no espaço. Mesmo assim, tal mudança na trajetória do DISCOVR teria exigido uma quantidade invulgar de combustível, embora ainda assim possível.

Após receber o e-mail de Giorgini, e tomando como certo que afinal o WE0913A não poderia ser o Falcon 9, Gray procurou registos de um objeto lançado não muito antes de Março de 2015, numa “órbita alta que passasse próximo da lua” — que poucas naves espaciais conseguem.

Ou seja, o suspeito é agora o Chang’e 5 T1. As provas ainda não são totalmente conclusivas, e são baseadas apenas na órbita projetada do Chang’e 5 T1.

Mas, na verdade, o número de corpos que reúnem todas as características que os coloquem na lista de suspeitos não é assim tão grande. E qualquer que seja o corpo em causa… está a caminho de uma colisão com a Lua.

Inês Costa Macedo, ZAP //

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