O seu filho adolescente ignora o que lhe diz? Não é por mal, diz a ciência

Há um processo no nosso cérebro que faz com que, aos 13 anos de idade, comecemos a deixar de prestar tanta atenção às vozes das nossas mães e passemos a ficar mais intrigados pelas vozes de desconhecidos.

Afinal, o seu filho adolescente não estava a ser mal-educado quando ignorou o que estava a dizer — era antes apenas a ciência do seu cérebro a funcionar.

Um novo estudo publicado na Journal of Neuroscience revelou que, aos 13 anos, os cérebros dos adolescentes começam a deixar de prestar tanta atenção às vozes das mães e passam a preferir vozes que não lhes sejam familiares.

A pesquisa baseou-se nos resultados de ressonâncias magnéticas que detalham a explicação neurobiológica por trás da separação dos pais que se inicia na idade transitória (e complicada) da adolescência, revela a Universidade de Stanford.

A amostra era composta por adolescentes entre os 13 e os 16 anos e meio. Todos os participantes tinham um QI mínimo de 80 e foram criados pelas suas mães biológicas. Os investigadores gravaram as mães a dizerem três palavras sem sentido, que duraram menos de um segundo, e o mesmo foi feito com duas mulheres que os jovens não conheciam.

O objectivo de se usar palavras sem sentido era evitar que os jovens sentissem uma ligação emocional com o que estava a ser dito. Cada participante ouviu as vozes da mãe e da desconhecida várias vezes numa ordem aleatória e conseguiram distinguir as duas mais de 97% das vezes.

Os cérebros dos jovens foram depois analisados com uma ressonância enquanto ouviam as vozes e também enquanto ouviam outros sons aleatórios, como os de uma máquina de lavar, para se notarem as diferenças entre sons que são ou não sociais.

De forma geral, os cérebros dos adolescentes são mais sensíveis às vozes do que os das crianças com menos de 12 anos. No entanto, com o passar do tempo, os circuitos de recompensa e os centros cerebrais que priorizam estímulos importantes são mais activados pelas vozes desconhecidas do que pelas vozes das mães (o estudo não analisou as vozes dos pais).

Este processo é completamente normal e é um sinal da maturação saudável, já que é uma criança tem de se tornar independente a certo ponto. A investigação limitou-se a descobrir o sinal biológico que precipita esta mudança.

“Tal como um bebé sabe sintonizar a voz da mãe, um adolescente sabe sintonizar vozes desconhecidas. Mas os adolescentes não sabem que estão a fazer isto, estão apenas a ser eles mesmos e a preferir passar tempo com os amigos e novas companhias”, explica o psiquiatra Daniel Abrams, que liderou o estudo.

Adriana Peixoto, ZAP //

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