Keiko Fujimori, filha do controverso ex-Presidente do Peru Alberto Fujimori (1990-2000), venceu a primeira volta das presidenciais peruanas, que se realizaram este domingo.
Filha do ditador Alberto Fujimori, Keiko Fujimori enfrentará o economista Pedro Pablo Kuczynski na segunda ronda das eleições presidenciais no Peru, de acordo com os resultados parciais divulgados na madrugada desta segunda-feira.
Com 40% dos votos contados, Keiko Fujimori consegue 39% dos votos e o seu opositor centrista 24%, a uma distância considerável da terceira classificada Verónika Mendoza, que nos últimos dias parecia em posição de disputar o segundo lugar com a promessa de uma “mudança radical” às políticas económicas do Peru, mas esta madrugada contava apenas 17% nos resultados parciais.
Difundidas logo após o encerramento das assembleias de voto, às 16h (22h em Lisboa), as sondagens à boca das urnas dos institutos Ipsos e CPI atribuíram entre 37,8% e 39,1% dos votos a Keiko Fujimori.
Os primeiros resultados oficiais deverão ser conhecidos na segunda-feira de madrugada.
Quase 23 milhões de peruanos foram chamados a participar nestas eleições, após uma campanha marcada por acusações de compra de votos e ataques mortíferos atribuídos à ex-guerrilha maoísta do Sendeiro Luminoso.
Keiko Fujimori, de 40 anos, candidata pelo partido de direita Força Popular, era vista como a grande favorita do escrutínio, apesar da opinião divida sobre o pai Alberto Fujimori, que dirigiu o país durante 10 anos, antes de ser condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e corrupção.
A candidata promete um pendor económico mais liberal, mas as suas grandes promessas são o investimento em obras públicas e o combate ao crime, na figura dos grandes traficantes de cocaína e guerrilhas residuais do Sendero Luminoso.
O escrutínio realizou-se no dia seguinte a dois ataques contra o exército e atribuídos pelas autoridades a forças residuais do Sendero Luminoso. Pelo menos sete pessoas morreram no centro do país.
A campanha eleitoral foi também perturbada por uma nova lei que proíbe, sob pena de exclusão, a distribuição de dinheiro ou ofertas.
Dos 19 candidatos inscritos à partida, nove renunciaram à candidatura. Um deles, Gregorio Santos, foi detido por suspeita de corrupção, mas apresentou-se a partir da prisão.
A legislação, que permite desqualificar os candidatos até ao dia da votação, foi criticada por juristas e pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, que afirmou recear “uma eleição semidemocrática”.
Os peruanos foram chamados a eleger o Presidente e dois vice-presidentes do Peru para o período 2016-2021, assim como 130 congressistas e 15 representantes para o parlamento.
O sistema político do Peru, onde o voto é obrigatório, tem por base um regime presidencialista com um mandato de cinco anos renovável, mas não de modo consecutivo, e um parlamento de câmara única.
É a segunda vez que Keiko Fujimori se apresenta a eleições, depois de ter perdido para o atual presidente Ollanta Humala, em 2011.
Reservas contra candidatura da filha de Fujimori
Na semana passada, milhares de pessoas manifestaram-se no Peru contra a candidatura de Keiko Fujimori à presidência e para condenar o golpe de Estado do pai, o ex-presidente Alberto Fujimori, a 5 de abril de 1992.
Representantes da Coordenadora Nacional de Direitos Humanos (CNDDHH) disseram à agência Efe que as manifestações, na terça-feira, em várias cidades do país, reuniram cerca de 50 mil pessoas, um número também avançado por membros do grupo civil “Keiko no va”.
O secretário-executivo da CNDDHH, Jorge Bracamonte, disse que a manifestação em Lima foi realizada com a intenção de recordar que a partir do golpe de 1992 “perverteram-se todas as instituições do país”.
Keiko Fujimori, antiga deputada, procurou distanciar-se das políticas do pai, a cumprir uma pena de 25 anos por violação dos direitos humanos e corrupção durante o seu mandato entre 1990 e 2000.
Alberto Fujimori governou o país com mão de ferro: mal foi eleito, dissolveu o Congresso, fechou o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Tribunal Constitucional e o Conselho da Magistratura, e aliou-se aos militares.
Encurralado por inúmeros escândalos, Fujimori acabou por fugir do país em 2000, durante uma viagem presidencial, tendo pedido asilo político no Japão.
O Tribunal Constitucional do Peru ratificou, em janeiro de 2015, a condenação a 25 anos de cadeia aplicada em 2009 ao antigo Presidente Alberto Fujimori por crimes contra a Humanidade.