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Fantasma da recessão global assombra Davos. Milionários pedem para pagar mais impostos

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EU2016NL / Flickr

Kristalina Georgieva

O FMI ainda não antecipa uma recessão na economia global, mas acredita que os países mais vulneráveis estão em risco de sofrer um recuo. O segundo dia do Fórum Económico Mundial foi também marcado por protestos de milionários que querem pagar mais impostos.

O fantasma da recessão global voltou para assombrar os debates do Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça.

A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) revelou que a guerra na Ucrânia piorou as previsões para a economia global e que pode haver uma recessão à vista para os países mais frágeis.

Questionada durante uma sessão sobre se as estimativas do FMI antecipam uma recessão global, Kristalina Georgieva foi das poucas que ainda tem uma visão mais optimista, respondendo que “ainda não”. “Isso não quer dizer que esteja fora de questão”, lembra.

As previsões de crescimento para 143 países foram recentemente cortadas. Para além da guerra na Ucrânia, a desaceleração na China e a subida do dólar também são preocupantes e levam Georgieva a descrever “2022 como um ano difícil”.

O FMI está agora a prever um crescimento global de 3,6% este ano e só países que já estavam numa situação mais frágil, como os que ainda não tinham recuperado dos efeitos da pandemia ou os que são mais dependentes de importações da Rússia, é que devem sofrer um recuo, escreve o The Guardian.

Os preços do petróleo têm acalmado, mas os preços da comida continuam a “subir, subir, subir”. “Podemos cortar no uso do petróleo quando o crescimento desacelera, mas temos de comer todos os dias. A ansiedade sobre a acessibilidade da comida a um preço razoável, globalmente, está a aumentar”, alerta.

Perante o mesmo painel, Jane Fraser, directora-executiva do banco Citigroup, traçou um cenário mais negro sobre a Europa. “A Europa está mesmo no meio das tempestades nas cadeias de abastecimento, da crise energética e obviamente está próxima das atrocidades que estão a acontecer na Ucrânia”, afirma. Sobre se o velho continente vai entrar numa recessão, Fraser responde com um simples “sim”.

Já no caso dos Estados Unidos, há uma “maior resiliência” na economia. Mas o futuro está nas mãos da Reserva Federal e sobre como esta vai aplicar a sua estratégia de aumento das taxas de juro para travar a inflação. “Há um amortecedor aqui. Temos de ver se vai ser usado correctamente ou não”, acrescenta.

O pivô matinal da CNBC Europa fez também uma sondagem de braço no ar à audiência de economistas e empresários presentes na sessão sobre a possibilidade de haver uma recessão mundial — e a maioria estava pessimista.

O Fórum também divulgou algumas horas antes as previsões do grupo de economistas que costuma ouvir e 58% dos especialistas considera que o crescimento na Europa será fraco. Já sobre o resto do mundo, a maioria considera que o crescimento será moderado.

“Taxem-nos mais”, pedem milionários

Um grupo de participantes mais abastados da conferência em Davos apelaram aos líderes mundiais que respondessem à inflação com o aumento dos impostos sobre os mais ricos num protesto no domingo ao lado de activistas de esquerda.

“Enquanto o resto do mundo está a colapsar sob o peso de uma crise económica, os bilionários e líderes mundiais encontraram-se neste local privado para discutirem os pontos de reviravolta na história”, afirma Phil White à BBC.

O milionário britânico considera que é “escandaloso” que os líderes políticos oiçam “aqueles que têm mais e que sabem menos sobre o impacto económico da crise” e que “infamemente pagam poucos impostos“. “A única conclusão credível desta conferência é taxar os ricos agora”, remata.

Apesar de poucos milionários deste movimento terem marcado presença em Davos, os manifestantes também enviaram uma carta aberta aos delegados do Fórum, assinada por mais de 150 milionários, que incluem o actor Mark Ruffalo, a herdeira do império da Disney, Abigail Disney, ou Nick Hanauer, um dos primeiros investidores na Amazon. Marlene Engelhorn, outra milionária, também está em Davos.

“Enquanto alguém que desfrutou dos benefícios da riqueza toda a minha vida, eu sei o quanto enviesada a nossa economia é e não posso continuar sentada à espera que alguém, em algum sítio, faça alguma coisa. Chegamos a uma altura quando mais 250 milhões de pessoas podem entrar na pobreza extrema este ano”, avisa.

Estes números vão ao encontro de um relatório da Oxfam, que revelou que as fortunas dos bilionários com investimentos nos sectores alimentar e energético cresceram em 453 mil milhões de dólares nos últimos dois anos e que surgiram mais “62 bilionários de comida”.

Os preços dos alimentos subiram mais de 30% no último ano, em média, e mais 263 milhões de pessoas estão em risco de entrarem numa situação de extrema insegurança alimentar. Este número é equivalente à população do Reino Unido, França, Espanha e Alemanha juntas.

A Oxfam pede aos líderes em Davos que introduzam imediatamente impostos sobre os mais ricos para colmatarem “o maior aumento da pobreza extrema em mais de 20 anos”.

Adriana Peixoto, ZAP //

2 Comments

  1. Estás a perceber mal.
    Estão a pedir para aumentar os impostos mas não é para eles.É para aqueles multimilionários que têm empresas com contabilidade fiscalizada. Eles têm o dinheiro em paraisos fiscais em contas ofshore.
    Por cá, o Costa já decretou esses aumentos. Não notas????

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