“Falhas graves” permitiram que homem abusasse de mais de 100 cadáveres em hospitais

Eletricista tinha acesso ilimitado à morgue, onde abusou de mulheres com idades entre os nove e 100 anos. Gestores do hospital estavam cientes de problemas na gestão da morgue desde 2008. Governo pediu desculpa.

David Fuller é o nome do homem que violou 101 cadáveres de mulheres com idades compreendidas entre os nove e os 100 anos de idade.

Na morgue de dois hospitais de Kent, no Reino Unido, onde trabalhava como eletricista, o abusador de 69 anos fê-lo entre 2007 e 2020, durante 13 anos, sem ser apanhado, devido a “falhas graves” dos hospitais, concluiu agora a investigação de inquérito.

“Houve oportunidades perdidas para questionar as práticas de trabalho de Fuller”, afirmou o líder da investigação, Sir Jonathan Michael, que lembrou que o caso “causou choque e horror” no país e no estrangeiro.

Além das falhas de gestão no Maidstone and Tunbridge Wells NHS Trust, Jonathan Michael afirma que houve uma “falha em seguir políticas e procedimentos padrão, juntamente com uma falta persistente de curiosidade”.

“Os gestores seniores do hospital estavam cientes de problemas na gestão da morgue desde 2008. No entanto, há poucas evidências de que ações eficazes tenham sido tomadas para os remediar”, rematou.

Houve “pouca consideração” sobre quem estava a aceder à morgue, diz; Fuller visitou-a 444 vezes num ano, algo que passou sempre “despercebido e sem controlo”.

Bastou o cartão de funcionário para que Fuller tivesse acesso às morgues. Escolheu momentos em que sabia que o pessoal tinha ido para casa para proceder à profanação.

No seu julgamento, o tribunal e o mundo ficaram a saber que Fuller visitava “os mesmos corpos repetidamente.”

“Ao identificar tais falhas graves, é claro para mim que há a questão de quem deve ser responsabilizado”, concluiu o investigador, reconhecendo, no entanto, que um comportamento tão macabro nunca é antecipado por ninguém.

“É fora do comum, mas é precisamente por isso que existem políticas, procedimentos e protocolos para identificar o que é fora do comum”, disse.

O “Necrodeus” não sairá da prisão

Kent Police

David Fuller

Fuller foi condenado a duas penas de prisão perpétua em 2021 pelo assassinato de Wendy Knell e Caroline Pierce. Pelo abuso de mais de uma centena de cadáveres, recebeu uma pena de 16 anos.

O criminoso — que segundo o Daily Mail se autointitulava de “Necrodeus” — admitiu ter assassinado as duas mulheres em 1987.

A polícia encontrou 14 milhões de imagens das agressões sexuais na sua casa em Heathfield, Sussex.

A investigação mais recente deixou ainda 17 recomendações para evitar “atrocidades semelhantes”, entre as quais a instalação de câmaras de vigilância em morgues, de modo a garantir que o pessoal não especializado está sempre acompanhado e que os corpos não são deixados fora dos frigoríficos durante a noite.

“Quero pedir desculpas profundamente em nome do governo e do NHS [ sistema nacional de saúde britânico]”, disse a ministra da Saúde, Maria Caulfield, em declaração escrita ao Parlamento.

“Acolhemos plenamente o relatório e garantiremos que haja uma resposta completa às recomendações na primavera de 2024, e que as lições sejam aprendidas em todo o NHS para que nenhuma família tenha de passar por esta experiência novamente”, garantiu.

Se o relatório foi difícil de engolir para o NHS, terá sido horrivelmente traumático para as famílias saberem que, se os gestores do hospital tivessem feito um trabalho melhor, Fuller poderia não ter sido capaz de profanar os corpos de centenas de mulheres durante anos.

ZAP // BBC

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