Expedição científica parte hoje de Lisboa para explorar a maior montanha da Europa ocidental

Fundação Oceano Azul

Banco de Gorringe

Uma expedição científica internacional coordenada por Portugal parte este sábado do Cais Adamastor, no Parque das Nações, em Lisboa, para recolher novos dados e imagens da biodiversidade que povoa a maior montanha submarina da Europa, a 240 quilómetros do Cabo de S. Vicente, no Algarve.

A Expedição Oceano Azul Gorringe, que conta com chancela da Fundação Oceano Azul e de parceiros governamentais e institucionais, tem como destino o Banco de Gorringe, um maciço montanhoso subaquático no Oceano Atlântico, a 220 km da costa portuguesa, com cerca de 200 km de comprimento e 80 km de largura.

Com profundidades entre os 5.000 metros, na sua base (mais 200 metros do que o Monte Branco, entre França e Itália), e os 25 metros, na zona menos profunda, o Gorringe é a montanha mais alta da Europa Ocidental. O seu nome é uma homenagem ao capitão Henry Honychurch Gorringe, que a cartografou em 1875.

Considerado um local de elevado interesse biológico e geológico, mas ainda pouco explorado, apesar das campanhas científicas realizadas no passado, o Gorringe é um “desencadeador muito importante” para acelerar em Portugal as medidas de proteção e gestão das áreas marinhas, segundo o coordenador-geral da expedição e administrador da Fundação Oceano Azul, Emanuel Gonçalves.

“Portugal é o principal detentor de biodiversidade marinha na Europa, mas não temos a correspondente proteção”, salientou o responsável da fundação, em declarações à Lusa.

A expedição, que envolve cerca de 50 cientistas de Portugal, Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, 30 dos quais a bordo de duas embarcações, visa sintetizar o conhecimento científico produzido sobre o Banco de Gorringe.

A missão procura agregar dados novos e divulgar o conhecimento adquirido, para “ganhar o apoio da sociedade para a proteção marinha e ativar os decisores para a adoção de medidas de proteção e gestão”.

Um relatório científico, com recomendações de ações, será publicado no primeiro trimestre de 2025 e um documentário sobre a expedição será exibido por essa altura. Antes disso, no fim da expedição, serão divulgados resultados preliminares do trabalho feito.

O Banco de Gorringe concentra diversos ‘habitats’, uns mais perto da superfície e outros mais nas profundezas, como florestas de algas, jardins de corais, campos de esponjas ou cardumes de peixes, incluindo tubarões.

Classificado desde 2015 como área marinha protegida da Rede Natura 2000, o sítio está na rota migratória de baleias, golfinhos e tartarugas.

“Zonas remotas como esta são mais complexas de gerir“, reconhece o co-coordenador científico da expedição, Henrique Cabral, biólogo que trabalha em França, no Instituto Nacional de Investigação em Agricultura, Alimentação e Ambiente, salientando que o local está sujeito a “pressões várias”, como a pesca e a poluição.

Para os cientistas reunirem informação sobre a biodiversidade do Banco de Gorringe, do qual estão documentadas mais de 800 espécies, serão feitas observações à superfície e a maior profundidade e serão recolhidas amostras de água, fauna e flora para análise e identificação.

Durante o trabalho, que inclui filmagens e registos fotográficos, serão feitos mergulhos a profundidades variáveis entre 30 a 40 metros e serão utilizados ‘drones’, um sistema de câmaras de vídeo e um veículo subaquáticos controlados remotamente.

A expedição tem ao “leme” o emblemático veleiro Santa Maria Manuela, que pertenceu à frota bacalhoeira portuguesa e hoje é usado em viagens turísticas.

A embarcação parte este sábado, juntamente com um segundo navio, do Cais do Adamastor, no Parque das Nações, em Lisboa.

Uma outra embarcação, com saída de Portimão, irá juntar-se à expedição, assim como o navio D. Carlos I, do Instituto Hidrográfico da Marinha, com trabalho em curso de bioacústica e cartografia dos fundos marinhos. Recentemente, o navio fez o primeiro levantamento completo da extensão do Banco de Gorringe.

Além da Fundação Oceano Azul, na coordenação-geral, promovem a expedição o Oceanário de Lisboa, o Ministério do Ambiente e Energia, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a Marinha Portuguesa.

O Banco de Gorringe foi registado pela primeira vez em 1875 por Henry Gorringe, comandante do navio norte-americano Gettysburg, durante uma missão de mapeamento do fundo do oceano Atlântico.

Os picos principais são os montes submarinos Gettysburg e Ormonde, que chegam quase à superfície, permitindo a deposição de grandes comunidades de algas.

ZAP // Lusa

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