O consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode causar danos cerebrais semelhantes à demência. Muitas vezes, ambas as condições são confundidas até mesmo pelos especialistas.
O consumo de bebidas alcoólicas aumentou com a pandemia, revela um recente questionário realizado no Reino Unido. Além disso, com o confinamento, registou-se um aumento de 31% na venda de bebidas alcoólicas. Para muitos, beber tornou-se um elemento-chave da experiência da pandemia.
Alguns podem ter recorrido ao álcool para aliviar a ansiedade, o stresse ou até para ocupar o tempo normalmente gasto no ginásio ou a socializar. Mas, seja qual for o motivo, embora muitos bebedores estejam cientes do efeito que o álcool pode ter sobre o fígado, muitos não percebem como o consumo excessivo (e contínuo) pode causar danos a longo prazo no cérebro.
Os danos cerebrais relacionados com o álcool (ARBD, em inglês) são um conjunto pouco reconhecido de condições relacionadas que envolve alterações estruturais e funcionais no cérebro. Pode prejudicar a memória, o pensamento, o planeamento e o raciocínio, além de causar mudanças na personalidade e no comportamento.
Atualmente, existe uma falta de conhecimento do ARBD. Os sinais de ARBD podem até ser confundidos com intoxicação por consumo excessivo de álcool, enquanto o estigma também é uma barreira para reconhecer e tratar as pessoas com a doença.
O ARBD geralmente começa com sintomas ligeiros, mas pode progredir para problemas mais graves se o álcool ainda for consumido em quantidades perigosas (definidas como 35 unidades – aproximadamente quatro garrafas de vinho – por semana para mulheres e 50 unidades para homens).
Os sinais iniciais de danos cerebrais relacionados com o álcool incluem comportamento impulsivo, problemas com planeamento e tomada de decisões e dificuldades em formar e reter novas memórias. Alguns também podem ter confabulações, que são “memórias” falsas ou distorcidas.
Os homens são mais propensos a ter ARBD, embora um estudo publicado em maio na revista Journal of Studies on Alcohol and Drugs mostre que as mulheres podem ser mais vulneráveis aos efeitos do álcool, já que as mulheres desenvolvem a condição numa idade significativamente mais jovem que os homens.
Abstinência e recuperação
Estes sintomas geralmente sobrepõem-se a alguns dos sinais de demência. Por exemplo, um estudo publicado em 2013 na revista científica Alzheimers Res Ther, sugere que até 24% de todos os casos de demência são de facto ARBD.
Mas enquanto os pacientes com demência raramente apresentam melhorias na sua condição, aqueles com ARBD têm potencial para recuperar, pelo menos parcialmente. Isso torna essencial distinguir esta condição da demência, considerando o histórico de consumo e observando quaisquer sinais de melhoria ou estabilização.
O tratamento de ARBD significa tipicamente abstinência do álcool, seguida de reabilitação. Geralmente, são necessários pelo menos três meses sem álcool para verificar se existem melhorias ou sinais de que o dano pode ser reversível.
Embora seja frequentemente difícil de diagnosticar, um relatório no País de Gales sugere um aumento geral de 38,5% daqueles diagnosticados com a doença por um período de cinco anos.
Embora o álcool possa oferecer uma libertação a curto prazo do stresse da vida – particularmente durante uma pandemia – muitos bebedores podem estar a desenvolver um hábito não saudável com o álcool que está a danificar o cérebro. Mas uma das coisas distintivas sobre o ARBD é que é uma condição evitável, tratável e potencialmente reversível, se reconhecida e tratada precocemente.
Para manter o controlo do consumo de álcool, a Organização Mundial da Saúde sugere que tente manter uma rotina e concentre a atenção nas coisas que podem ser controladas. Em vez de passar o tempo a beber álcool, isto poderia ser substituído pela atividade física, que é conhecida por estimular o sistema imunológico e beneficiar a saúde mental.
ZAP // The Conversation