Ex-terrorista alemã pede perdão a filho de vítima 40 anos depois

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james_gordon_losangeles / Flickr

Silke Maier-Witt pediu perdão ao filho de Hanss Martin Schleyer, assassinado pela organização terrorista Rote Armee Fraktion (RAF), da qual fazia parte, em 1977, depois de ter sido sequestrado por 43 dias.

“Depois de 43 dias demos fim à lamentável e corrupta existência de Hanns Martin Schleyer”, disse Silke aos meios de comunicação após o assassinato.

Quatro décadas depois, o jornal Bild organizou um encontro entre a ex-terrorista e o filho mais velho de Schleyer, Jörg Schleyer. Os dois encontraram na capital da Macedónia, em Escópia, para uma conversa de quase oito horas, da qual foram publicados, nesta terça-feira, os primeiro fragmentos.

“Parece simplista, mas antes de mais nada quero pedir perdão“, disse Silke no encontro com Schleyer.

A ideia do encontro surgiu de uma reunião do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, com vítimas da RAF para relembrar os 40 anos do chamado Outono Alemão, que começou precisamente com o sequestro de Schleyer.

Na reunião, Steinmeier pediu aos ex-terroristas que quebrassem o silêncio sobre os crimes e respondessem às muitas perguntas dos familiares das vítimas.

Após esse pedido, o “Bild” contatou Silke em Escópia, onde vive desde o final dos anos 90, e a alemã aceitou o encontro: “Quero finalmente assumir a minha responsabilidade“.

A mulher, que entrou na RAF em abril de 1977, participou nos preparativos do sequestro de Schleyer e ficou encarregada de comunicar o seu assassinato. Além disso, transcreveu parte das gravações dos interrogatórios ao sequestrado durante o cativeiro.

“Não ouvi todas, mas muitas delas. Lembro-me que o seu pai disse que o capitalismo e o imperialismo não eram tão simples como nós pensávamos”, disse Silke na conversa com Jörg Schleyer.

No entanto, a ex-terrorista afirmou que não fez parte do comando que levou a cabo o sequestro nem foi encarregada da vigilância de Schleyer. O sequestro foi parte de uma ofensiva da RAF para pressionar a libertação dos dirigentes da organização.

Depois de as autoridades alemãs se negarem a negociar, um comando da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que cooperava com a RAF, sequestrou um avião da Lufthansa e uniu-se às exigências dos sequestradores de Schleyer.

A 18 de outubro de 1977, uma unidade antiterrorista alemã tomou o avião e libertou os passageiros. No dia seguinte, Silke comunicou a morte de Schleyer, e, na prisão de Stammheim, apareceram mortos os terroristas Andreas Baader, Gudrun Ensslin e Khan-Carl Raspe, que se tinham suicidado nas celas.

Em 1979, Silke mudou-se para a República Democrática Alemã (RDA), onde adquiriu a identidade de Angelika Gerlach e onde, em 1990, no marco do processo de reunificação da Alemanha, foi descoberta e detida. Em 1991, foi condenada em Estugarda a dez anos de prisão, mas só cumpriu metade da pena.

Por recomendação do então procurador Kay Nehm, a ex-terrorista começou a trabalhar como ativista numa organização para a reconciliação nos Balcãs em 1999. Jörg Schleyer, por sua vez, considerou que a disposição de Silke para assumir os atos da RAF é autêntica.

“Pela primeira vez soube da boca de uma terrorista condenada quem estava com o meu pai quando foi assassinado. Espero que outras pessoas sigam o seu exemplo e digam o que sabem”, disse.

// EFE

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