Evoluímos para sobreviver a queimaduras ligeiras, mas não às graves

Os primeiros seres humanos quase não tinham esperança de sobreviver a queimaduras graves, então a evolução pode ter priorizado a seleção de genes que curam queimaduras leves, o que pode estar a afetar a medicina moderna.

O domínio do fogo também pode ter levado a mudanças genéticas que ajudaram os primeiros seres humanos a sobreviver a queimaduras leves, mas essa característica evolutiva pode complicar o tratamento de casos mais graves hoje em dia.

Um estudo em fase inicial sugere que a seleção de genes que previnem infeções mortais que podem surgir de queimaduras leves foi priorizada nos primeiros Homo Sapiens, mas esses mesmos genes interferem na cicatrização das queimaduras graves.

Uma explicação para isto acontecer pode ser porque, nos tempos primitivos, as pessoas com queimaduras graves quase não tinham esperança de sobreviver.

Segundo o New Scientist, há, pelo menos, 1 milhão de anos que os hominídeos usam o fogo, seja para cozinhar, aquecer-se, proteger-se ou fabricar ferramentas — e, assim, colocam-se em risco de queimaduras.

Os cientistas já descobriram que o Homo Sapiens pode ter evoluído para superar alguns tipos de toxicidade do fumo.

Joshua Cuddihy, do Chelsea and Westminster Hospital NHS Foundation Trust, em Londres, e os seus colegas suspeitaram que as lesões cutâneas relacionadas ao fogo também poderia ter moldado a evolução humana.

Para descobrir, analisaram dados publicados anteriormente sobre os genes expressos na pele queimada e saudável de ratos e humanos, identificando 94 que eram expressos apenas durante a cicatrização de queimaduras.

Em seguida, realizaram análises adicionais em dados genéticos publicados de humanos e chimpanzés, nossos parentes vivos mais próximos.

A equipa procurou sinais de seleção natural aprimorada para esses 94 genes em humanos comparativamente com chimpanzés, identificando 10 genes de cicatrização de queimaduras que passaram por uma seleção significativamente mais forte em pessoas.

Três genes particularmente selecionados — que promovem a sensação de dor, a formação de tecido cicatricial, a inflamação e o fecho da ferida — provavelmente teriam ajudado a fechar rapidamente queimaduras menores para evitar infeções e promover a inflamação para combater qualquer patógeno potencial, de acordo com os resultados da equipa apresentados na reunião anual da American Burn Association em Phoenix, Arizona, este mês.

Mas a inflamação e o tecido cicatricial podem complicar a cicatrização de queimaduras maiores, de modo que os mesmos genes que promovem a cicatrização de queimaduras menores parecem impedir a cicatrização das maiores.

Assim, pode complicar os tratamentos atuais, quando os médicos têm as ferramentas para ajudar pessoas com tais lesões.

“Este é um resultado muito significativo, pois atesta a dinâmica coevolutiva única e culturalmente determinada que caracteriza a evolução humana“, diz Daniel Dor, da Universidade de Tel Aviv, em Israel.

Thomas Püschel, da Universidade de Oxford, considera a ideia “inovadora e intrigante” e os resultados “promissores e biologicamente plausíveis”. Mesmo assim, validar a a hipótese exigiria muito mais investigação com uma variedade maior de espécies de primatas, incluindo hominídeos extintos, diz.

Hans Püschel, do Núcleo Milénio sobre Transições Evolutivas Precoces dos Mamíferos, em Santiago, Chile, concorda com a avaliação do irmão, Thomas Püschel. “A direcionalidade dessas mudanças genéticas em humanos ainda não foi suficientemente esclarecida”, afirma.

“Além disso, as características e os mecanismos específicos sujeitos à seleção durante a evolução dos hominídeos não estão claramente definidos, deixando essa hipótese intrigante ainda subdesenvolvida e bastante especulativa”.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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