A evolução, considerada um processo aleatório, pode ser previsível

A evolução tem sido considerada um processo relativamente aleatório, com as características das espécies a serem determinadas por mutações casuais e fatores ambientais e, portanto, imprevisíveis.

Num estudo recentemente publicado na Nature Ecology & Evolution, uma equipa de investigadores das universidades de Yale e de Columbia descobriu que uma planta específica desenvolveu, de forma independente, três tipos de folhas semelhantes em locais diferentes da região neotropical.

A investigação revelou os primeiros exemplos em plantas da evolução paralela, que passa pelo desenvolvimento repetido de formas semelhantes em diferentes regiões. Esta descoberta levanta a possibilidade de que a evolução não é, necessariamente, um processo tão aleatório e que pode ser antecipada, indicou o Sci Tech Daily.

“Os resultados demonstram como a evolução pode ser previsível, com o desenvolvimento de organismos e a seleção natural a combinar para produzir as mesmas formas uma e outra vez sob certas circunstâncias”, disse Michael Donoghue, da Universidade de Yale.

“Talvez a biologia evolucionária possa tornar-se muito mais uma ciência de previsão do que alguma vez imaginámos no passado”, continuou.

A equipa examinou a genética e a morfologia da Viburnum, uma espécie de planta que começou a espalhar-se na América Central e do Sul a partir do México há cerca de 10 milhões de anos.

Donoghue conduziu uma investigação sobre este grupo de plantas há 40 anos. Na altura, defendeu uma teoria alternativa segundo a qual folhas grandes e com pelos e folhas pequenas e lisas evoluíram em conjunto no início, migrando depois separadamente ao serem transportadas por pássaros para diferentes locais.

Universidade de Yale

Folhas semelhantes evoluíram de forma independente em três espécies encontradas nas florestas de Oaxaca e de Chiapas, no México. Este exemplo de evolução paralela é um dos vários encontrados pelos cientistas e sugere que a evolução pode ser previsível

Contudo, as novas análises apresentadas no estudo atual demonstram que os dois diferentes tipos de folhas evoluíram separadamente, e simultaneamente, em cada uma das regiões montanhosas. “Cheguei à conclusão errada porque me faltavam dados genómicos relevantes na década de 1970”, disse Donoghue.

A equipa descobriu que um conjunto muito semelhante de folhas evoluiu em nove das 11 regiões estudadas. No entanto, o conjunto completo pode ainda não ter evoluído em locais para os quais a Viburnum migrou mais recentemente – como é o caso das montanhas da Bolívia.

“Estas plantas chegaram à Bolívia há menos de um milhão de anos, pelo que prevemos que as folhas grandes e peludas acabarão por evoluir também” neste país, indicou Donoghue.

Vários exemplos de evolução paralela foram encontrados em animais, como os lagartos de Anolis, nas Caraíbas. Nesse caso, o mesmo conjunto de formas corporais evoluíram de forma independente em várias ilhas.

“Este trabalho colaborativo, que abrange décadas, revelou um novo sistema maravilhoso para estudar a adaptação evolutiva”, disse Ericka Edwards, professora da Universidade de Yale e uma das autora do artigo.

“Agora que estabelecemos o padrão, os nossos próximos desafios são compreender melhor o significado funcional destes tipos de folhas e a arquitetura genética subjacente que permite o seu aparecimento repetido”, indicou.

ZAP //

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