Alguns europeus da Idade da Pedra fizeram-se ao mar — e regressaram a África

Simone Mulazzani

Um esqueleto encontrado na Tunísia prova o contacto entre caçadores-coletores europeus e africanos

Milhares de anos antes de Odisseu ter atravessado o “mar tenebroso” no poema épico de Homero, A Odisseia, já os caçadores-recoletores da Idade da Pedra andavam a saltar de ilha em ilha para África através do Mediterrâneo,, em canoas de madeira.

Um novo estudo publicado na Nature sugere que os antigos caçadores-coletores europeus poderão ter atravessado o Mediterrâneo em direção ao Norte de África há cerca de 8500 anos, marcando o início do contacto entre populações que se pensava estarem isoladas.

A investigação analisou ADN antigo de restos mortais encontrados no Magrebe oriental, uma região que abrange a Tunísia e o nordeste da Argélia.

Os resultados indicam que pelo menos um indivíduo desta zona tinha cerca de 6% do seu ADN proveniente de caçadores-coletores europeus. Esta é a primeira prova genética definitiva da interação entre as primeiras populações europeias e norte-africanas.

“Há várias décadas, alguns antropólogos biológicos especularam que os caçadores-coletores europeus e do Norte de África tinham tido contacto, com base em traços esqueléticos”, disse Ron Pinhasi, antropólogo evolutivo da Universidade de Viena e co-autor do estudo.

“Na altura, esta teoria parecia excessivamente especulativa. No entanto, 30 anos depois, os nossos novos dados genómicos validaram estas hipóteses iniciais”, acrescenta o investigador.

A Idade da Pedra, que começou há cerca de 3 milhões de anos, terminou há aproximadamente 5000 anos em algumas regiões, com o aparecimento de ferramentas metálicas e das primeiras civilizações.

Durante este período, os caçadores-coletores, tanto na Europa como no Norte de África, passaram gradualmente para a agricultura. Enquanto os estudos anteriores se centraram na história genética do Magrebe ocidental (atual Marrocos), pouco se sabia sobre a transição do Magrebe oriental para a agricultura, explica o Live Science.

David Reich, geneticista populacional da Harvard Medical School, outro co-autor do estudo, observou que a história inicial do Norte de África permaneceu em grande parte inexplorada. “Não tem havido muita história do Norte de África”, disse Reich à Nature News. “Era um buraco enorme”.

Estudos anteriores revelaram que os agricultores europeus, geneticamente distintos dos caçadores-colectores, contribuíram significativamente para as populações do Magrebe ocidental — até 80% em alguns casos, provavelmente devido à migração através do Estreito de Gibraltar há cerca de 7000 anos.

No entanto, o novo estudo descobriu que as populações do Magrebe oriental tinham muito menos ascendência de agricultores europeus — apenas cerca de 20% — sugerindo que estavam mais isoladas geneticamente.

Estas descobertas sugerem que os primeiros seres humanos do Magrebe oriental mantiveram as suas tradições de caçadores-coletores durante muito mais tempo do que os seus homólogos ocidentais, atrasando a adoção da agricultura até cerca de 1000 a.C.

ZAP //

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