Muitos dos inquiridos não acreditam que se vão manter no cargo daqui a meia dúzia de anos. Pandemia piorou o cenário.
O ambiente nas escolas está complicado nos Estados Unidos da América e muitos directores, ou já deixaram, ou querem deixar em breve o cargo que ocupam.
A Associação Nacional de Directores de Escolas Secundárias realizou um inquérito a 502 directores (em todos os níveis de escolaridade), que ocupam o cargo há pelo menos dois anos. O estudo foi realizado entre Outubro e Novembro do ano passado.
A conclusão principal é logo a primeira a ser apresentada: se o rumo não for alterado, vem aí um “êxodo em massa” de directores.
Em números concretos: 38% dos responsáveis pelas escolas pensam deixar o cargo que ocupam, no máximo, daqui a três anos. 62% dos que estão em início de carreira prevêem sair durante os próximos seis anos, enquanto muitos estão próximos da reforma.
A satisfação com o cargo não é generalizada: apenas 35% sentem-se satisfeitos, no geral, na posição que ocupam – uma grande descida, já que em 2019, na mesma pergunta, havia 63% de directores satisfeitos.
Há preocupações que comandam os pensamentos dos directores: 68% estão preocupados com a falta de professores no ano lectivo actual e a mesma percentagem está preocupada com o esgotamento entre os professores.
O coronavírus piorou a situação. Praticamente metade dos directores de escola (47%) acha que o seu papel mudou muito desde que a pandemia mudou o mundo.
A quantidade e o número de horas de trabalho aumentaram muito: 79% têm trabalhado mais nos últimos dois anos, 73% trabalham mais horas por semana agora e 62% têm tido mais dificuldades em concretizar as suas tarefas, desde Março de 2020.
Entre os três maiores desafios que a pandemia trouxe, dois deles estão relacionados com a saúde mental: apoiar os alunos, professores e funcionários a nível da saúde mental. O outro grande obstáculo é gerir as aulas à distância.
O ambiente político, muito tenso nos EUA nos últimos anos, antecipa a saída de directores das respectivas escolas.
E as ameaças a directores sucedem-se: 34% receberam ameaças online e 29% foram ameaçados pessoalmente por parte de encarregados de educação.
Trabalhar 60 horas por semana
O portal The 74 Million, focado na educação, descobriu o caso de Derek Forbes, director de um liceu em Washington e ligado ao sector da educação há 22 anos.
E, em mais de duas décadas, nunca terá trabalhado tanto como nestes últimos dois anos: ele e colegas de outros liceus passaram a trabalhar mais de 60 horas por semana e tornaram-se multifacetados, desempenhando funções de directores, enfermeiros, substitutos de professores, funcionários na cantina…
Derek Forbes também reparou que o comportamento dos seus alunos mudou: mais violento, mais desentendimentos com colegas, mais “respostas tortas” aos professores.
São consequências da COVID-19, é uma questão de saúde mental: “Os meus alunos não estão a aprender como eu queria. Estão a lidar com os seus próprios problemas de saúde mental; e não consigo ajudá-los nisso porque directores, professores e funcionários estão a ter os mesmos problemas. E isto continua acumular-se”.
Por isso, a mudança de carreira pode estar próxima: “Sempre pensei que estaria no sector da educação até me reformar. Continuo a achar que ficarei por cá, mas já pensei em alternativas. E nunca pensei que faria isso sequer, pensar em alternativas”.