Os EUA querem usar bens russos para emprestar dinheiro à Ucrânia. A Europa tem dúvidas

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Telegram / Zelenskyy

Biden e Zelenskyy em Kiev

Os EUA defendem que se usem os activos russos congelados para financiar um empréstimo dinheiro à Ucrânia, mas a União Europeia teme ficar atolada com as dívidas caso Kiev não consiga devolver o dinheiro.

Os Estados Unidos querem utilizar os lucros dos bens russos congelados para conceder um empréstimo significativo à Ucrânia, mas os parceiros europeus estão a hesitar em avançar com a medida. Os ministros das finanças do G7, atualmente reunidos em Itália, estão a debater os potenciais riscos financeiros deste plano.

Washington tem instado os seus aliados europeus a encontrarem novas fontes de financiamento para a Ucrânia, prevendo que os fundos existentes se possam esgotar no próximo ano. A proposta envolve o aproveitamento dos juros gerados pelos activos russos congelados para a concessão de um empréstimo de 50 mil milhões de euros à Ucrânia.

No entanto, os principais países da UE, como a França e a Alemanha, estão preocupados com o facto de os seus contribuintes poderem vir a suportar os encargos financeiros se a Ucrânia não conseguir devolver o dinheiro após a guerra.

“Temos de avaliar as consequências económicas e legais e ainda é muito cedo para se saber em concreto alguns dos elementos deste instrumento”, explica o Ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, citado pelo Politico.

A União Europeia detém a maioria dos activos congelados da Rússia, o que deixa as nações europeias mais expostas a riscos financeiros do que os EUA, cujos bancos detêm uma quantidade mínima destes fundos.

Inicialmente, os EUA propuseram a apreensão da totalidade dos activos, mas após um desacordo considerável, o plano foi reduzido para utilizar apenas os juros obtidos com esses activos. Apesar da proposta modificada dos EUA, os responsáveis europeus estão a demonstrar um apoio tímido e são precisas mais reuniões para haver um consenso antes da reunião dos líderes do G7 em meados de junho.

Segundo a proposta atual, os juros anuais sobre os activos serviriam para pagar o empréstimo. Ainda assim, os funcionários europeus insistem num plano de contingência para o caso de os activos terem de ser devolvidos à Rússia após o conflito. Também querem garantias de que os EUA partilharão os encargos financeiros se os pagamentos de juros flutuarem ou se a Ucrânia não cumprir a sua dívida.

Os riscos são elevados para a UE. Recentemente, a UE concordou em utilizar 90% dos lucros dos activos russos congelados, cerca de 3 mil milhões de euros, para comprar armas para a Ucrânia a partir de julho. Algumas capitais, nomeadamente Paris, estão relutantes em alterar significativamente este acordo para se adaptarem à proposta dos EUA.

Para aumentar a tensão, Washington prefere conceder o empréstimo diretamente à Ucrânia, ao passo que os funcionários da UE sugerem que os fundos sejam canalizados através de um fundo gerido pela UE, dado que a maioria dos activos se encontra na Europa.

Para complicar ainda mais a questão, os países da UE mais próximos da Rússia, como a Hungria, poderiam obstruir o plano. A Hungria já manifestou a sua oposição ao plano mais limitado da UE de utilizar os activos congelados para a compra de armas, o que já indica uma resistência à proposta mais ampla dos EUA.

O caminho a seguir continua repleto de desafios, exigindo uma negociação cuidadosa para equilibrar a responsabilidade financeira e o apoio à Ucrânia.

Adriana Peixoto, ZAP //

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