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Estudo identifica população mais vulnerável a transtornos mentais graves

Bhernandez / Flickr

Homens jovens, minorias étnicas e habitantes de áreas com baixos indicadores socioeconómicos têm maior propensão a apresentar um primeiro episódio psicótico, como é definida a manifestação inédita de transtornos mentais que incluem esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar e depressão com sintomas psicóticos, como alucinações, ideias delirantes e desorganização do pensamento.

A constatação é de um estudo que estimou a incidência do primeiro episódio psicótico em cinco países europeus – Inglaterra, França, Holanda, Espanha e Itália – e no Brasil. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista “JAMA Psychyatry”.

Nos últimos anos, pesquisas têm indicado que a incidência do primeiro episódio psicótico apresenta uma variação entre regiões e grupos populacionais.

Em países europeus, tem sido observada maior incidência desses transtornos em grandes centros urbanos em comparação com pequenas vilas e áreas rurais e em grupos étnicos minoritários, como imigrantes negros do Caribe e da África.

A fim de corroborar ou refutar essas observações, os investigadores fizeram um trabalho de identificação de pacientes que apresentavam o primeiro episódio psicótico. A investigação foi feita em 17 centros urbanos e rurais dos seis países participantes, entre 2010 e 2015.

Os cientistas identificaram 2774 pacientes que apresentaram um primeiro episódio de transtornos psicóticos, dos quais 1578 eram homens e 1196 mulheres, com idade média de 30 anos.

As análises dos dados indicaram uma variação de 8 vezes na incidência dos transtornos psicóticos entre as áreas estudadas.

Enquanto em Santiago, Espanha, a incidência foi de seis novos casos por 100 mil habitantes por ano, em Paris, França, o número subiu para 46 novos casos também por 100 mil habitantes por ano. Na região de Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, no Brasil, a incidência foi de 21 novos casos por 100 mil habitantes por ano.

“O estudo confirmou que a incidência do primeiro episódio psicótico varia muito entre grandes centros urbanos e regiões mais rurais e indicou que os fatores determinantes centrais para essa grande variação são, provavelmente, ambientais. Até ao fim do século XX acreditava-se que os principais fatores etiológicos – origem e causa – de transtornos psicóticos seriam genéticos, mas os dados do estudo apontam que os fatores ambientais desempenham um papel muito relevante”, afirmou Paulo Rossi Menezes, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

O estudo também apontou que há maior incidência de primeiro episódio psicótico em homens de 18 a 24 anos em comparação com mulheres na mesma faixa etária, o que confirma um dado relativamente consistente na literatura.

De acordo com o cientista, estudos anteriores já indicavam maior incidência de primeiro episódio psicótico em homens jovens e também que, conforme os homens se aproximam dos 35 anos, a incidência de transtornos mentais tende a equiparar-se à das mulheres.

Em mulheres adultas, entre 45 e 54 anos, a incidência de transtornos mentais é um pouco maior do que a dos homens nessa mesma faixa etária.

Ainda não se sabe exatamente a razão dessa diferença da incidência do primeiro episódio psicótico entre sexos e faixas etárias. Mas isso pode estar relacionado com o processo de amadurecimento cerebral, uma vez que o cérebro atinge a maturidade entre os 20 e 25 anos. Nesse período, os homens parecem ficar mais vulneráveis do que as mulheres para desenvolver transtornos mentais”, disse.

Os cientistas também constataram alta incidência de primeiro episódio psicótico em minorias étnicas e em áreas com menor percentagem de casas ocupadas pelos proprietários.

“Isso sugere que as condições sócio-económicas das pessoas e do ambiente onde vivem têm um papel importante na etiologia dos transtornos psicóticos. É preciso compreender melhor os mecanismos envolvidos para explicar a variação da incidência desse problema entre populações”, avaliou Menezes.

Os investigadores pretendem analisar os dados sobre o histórico de vida dos pacientes, além das condições sócio-económicas, e compará-los com controlos da população (pessoas que não apresentaram esse quadro) a fim de analisar os fatores de risco para o desenvolvimento de um primeiro episódio psicótico.

Experiências traumáticas na infância e experimentar canábis na adolescência ou início da vida adulta, por exemplo, são fatores que aumentam o risco de transtornos mentais.

“Se conseguirmos identificar os fatores de risco para o desenvolvimento desses transtornos mentais em populações mais vulneráveis, é possível intervir para diminuir a incidência”, assegurou.

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