Estes cinco gráficos mudaram o mundo — para o bem e para o mal

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Gráfico do clima de Ed Hawkins

Traduzir fenómenos complexos para quem não domina determinada matéria é o principal objetivo dos gráficos, alguns dos quais conseguiram o seu lugar na história.

O economista político escocês William Playfair (1759-1823) foi o responsável pela criação do primeiro gráfico circular do mundo, além de alguns dos primeiros gráficos de linhas e de barras. Atualmente, a visualização de dados por via destes gráficos é a opção mais recorrente.

No entanto, quando Playfair os apresentou pela primeira vez, há mais de 200 anos, a ideia de criar formas para ilustrar números não foi bem recebida. “Como poderiam os desenhos representar realmente dados científicos sólidos?”, era o pensamento dominante.

Com o passar do tempo, a visualização gráfica de dados tornou-se até uma forma de arte. E, entre este imenso universo, é possível identificar alguns que, de certa forma, mudaram o mundo em que vivemos.

Os mapas de pontos do John Snow

Flickr/ Jim Surkamp

Mapa de pontos desenhado por John Snow

Um dos exemplos mais conhecidos da visualização de dados em imagens foi criado em Londres, em 1854. Naquela época, a crença geral era que as doenças infecciosas, como cólera, eram transmitidas pelo ar. Mas o cirurgião John Snow (1813-1858) pensava diferente. Para ele, as infecções poderiam propagar-se pela água suja.

Foi quando um surto mortal de cólera surgiu no bairro londrino de Soho. Snow rastreou todos os casos e os marcou com um ponto no mapa. Os pontos geraram uma imagem muito clara. Todas as mortes por cólera agrupavam-se em torno de uma bomba d’água, na rua chamada Broad Street.

Snow apresentou as suas descobertas aos responsáveis locais, a bomba foi fechada e o surto contido. Desta forma, John Snow mudou radicalmente o nosso conhecimento sobre os micróbios. E seus mapas com pontos tão simples tiveram um papel importante no processo.

O diagrama da rosa

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O diagrama rosa de Florence Nightingale

Quase na mesma época, a “Dama da Lâmpada” Florence Nightingale (1820-1910) também usou uma imagem criativa para salvar ainda mais vidas.

Durante a Guerra da Crimeia, nos anos 1850, Nightingale percebeu que morriam mais soldados nos hospitais, em condições insalubres, do que no campo de batalha. Ela queria convencer a rainha Vitória – como comandante suprema do exército britânico, na época – a dedicar recursos para melhorar as condições dos hospitais militares.

Precisamente, o diagrama da rosa ajudou Florence Nightingale a conseguir melhores condições hospitalares para os soldados durante a Guerra da Crimeia

Para isso, Nightingale criou o “Coxcomb” (“crista do galo”, em tradução literal), que é conhecido em português como o diagrama da rosa. O gráfico circular com diâmetros irregulares mostrava os dados sobre as causas das mortes de soldados de forma muito eficaz.

Os esforços de Florence Nightingale tiveram forte impacto, não só melhorando as condições sanitárias dos hospitais militares, mas também mudando as feições da assistência médica moderna.

Contra o preconceito racial

Library of Congress

Gráfico desenvolvido por W. E. B. Du Bois, contra o preconceito racial

Um dos exemplos mais originais de visualização de dados em gráficos foi criado pelo historiador norte-americano e ativista dos direitos civis W. E. B. Du Bois (1868-1963), para a Exposição Universal de 1900 em Paris, na França.

Du Bois apresentou uma série de gráficos feitos à mão, mostrando as conquistas educativas, sociais e comerciais dos norte-americanos de origem africana durante os primeiros 35 anos após a abolição oficial da escravatura no país.

As informações questionavam os estereótipos e demonstravam como as comunidades negras continuavam sendo discriminadas. Du Bois esperava que as visualizações ajudassem a colocar fim ao preconceito racial em todo o mundo.

“O problema do século 20 é o problema da linha da cor”, escreveu ele.

Os sonhos de W. E. B. Du Bois não se tornaram realidade, mas seus belos gráficos agora são reconhecidos como um poderoso uso da visualização de dados para demonstrar as mudanças sociais.

A árvore de Kallikak

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Árvore genealógica de Kallikak

A visualização de dados em gráficos também pode ser usada para disseminar desinformação. E, às vezes, com consequências desastrosas. É o caso da árvore genealógica de Kallikak. Como gráfico, não é uma inovação, mas causou profundo impacto.

O esquema foi criado com bases duvidosas pelo psicólogo norte-americano Henry Goddard (1866-1957). O especislista acreditava que um dos maiores problemas da sociedade seriam as pessoas que ele entendia serem “débeis mentais” – basicamente, qualquer pessoa que Goddard ou outras pessoas como ele considerassem donos de inteligência inferior.

Goddard escreveu o livro The Kallikak Family: A Study in the Heredity of Feeble-Mindedness (“A família Kallikak: um estudo da hereditariedade da debilidade mental”, em tradução livre).

O texto é baseado na história do soldado Martin Kallikak, que era casado e provinha de uma família de cidadãos honrados. Mas Kallikak teria tido um filho, produto de uma aventura de uma noite com uma camareira que, segundo Goddard, seria “débil mental”.

Para o psicólogo eugenista, a “debilidade mental” seria hereditária e sua descendência estaria repleta do que ele chamava de “tipos mais baixos de seres humanos”. Ocorre que toda a história era inventada. A camareira nunca existiu.

Mesmo assim, a árvore genealógica de Kallikak podia ser encontrada em livros escolares até a década de 1950 e foi utilizada pelo movimento eugenista por décadas.

A árvore também foi empregada pelos nazis. Eles a usaram em filmes de propaganda para atrair apoio às suas leis de pureza racial, que causaram o assassinato de milhares de pessoas incapacitadas durante o Holocausto.

Riscas do aquecimento

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Gráfico do clima de Ed Hawkins

Às vezes, um gráfico pode se tornar emblemático quase por acaso. Em 2018, o cientista Ed Hawkins foi convidado a dar uma palestra sobre mudanças climáticas no festival literário Hay, no País de Gales.

O especialista precisava de explicar a subida das temperaturas médias globais para uma audiência que, em grande parte, não tinha conhecimentos científicos. Por isso, idealizou um gráfico que não usava palavras, mas sim cores – uma forma incrivelmente simples de demonstrar o aquecimento do planeta desde 1850.

O gráfico ficou conhecido como “as riscas do aquecimento”. Hawkins usou tons azuis para indicar os anos mais frios e riscas vermelhas para exibir os anos com temperaturas acima da média.

Desde então, o gráfico é atualizado anualmente. Em 2022, Hawkins afirmou que, pela primeira vez, foi preciso introduzir uma nova faixa vermelha, demonstrando a rapidez das mudanças climáticas no planeta.

O gráfico de Ed Hawkins desrespeita algumas das regras da visualização gráfica de dados (não há título, nem legenda, por exemplo). Mas é um dos mais emblemáticos dos tempos modernos.

ZAP // BBC

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